Teste Harley-Davidson Street Glide ST - Estilo e Performance

Quem nunca conduziu uma Harley-Davidson faz normalmente um juízo de valores negativo do conceito cruiser. E quem não tiver experiência na condução de uma moto destas dimensões, dificilmente vai poder dar valor aos seus predicados e facilmente tender a encontrar defeitos naquilo que os puristas da marca definem como carisma ou até mesmo qualidade.

No entanto, quem for fã do conceito, não vai ficar indiferente às sensações que este tipo de moto proporciona, e dificilmente vai encontrar melhor do que o que esta Street Glide ST oferece.

A Street Glide é a moto mais icónica da Harley-Davidson. É também o modelo mais vendido da marca e um daqueles que seguramente eu tinha na minha garagem se tivesse €spaço para ela.

É também uma das cruisers em que já fiz mais quilómetros, acompanhando a sua evolução ao longo dos anos, muitas vezes em viagem, sobretudo desde que, em 2014, a Harley revolucionou os seus modelos com o Project Rushmore, então ainda com os motores Twin Cam 103 Twin-Cooled e mais ainda desde que a marca adotou o motor Milwaukee Eight, em motos como a Street Glide Special 107 de 2017 e a Street Glide Special 114 de 2020.

Em 2022 e 2023, a Harley-Davidson disponibilizou uma versão especial da Street Glide, a ST (de Sport Tourer) que apresenta argumentos ainda mais refinados, começando pelo motor Milwaukee-Eight 117, com 1923cc (até então exclusivo dos modelos de topo de gama CVO), em vez do mais convencional de 114 polegadas cúbicas que equipa a versão normal.

Pintado de negro, para um aspecto mais impactante, facilmente reconhecido pela banda de cor bronze que decora a cabeça dos cilindros, este Milwaukee-Eight 117 com afinação de alta performance debita uns expressivos 102cv às 4750rpm, com um binário de 169Nm às 3,500rpm, que impressiona pela sua suavidade de funcionamento e disponibilidade de entrega em qualquer regime, mesmo a baixa rotação. Rodar o punho direito é uma tentação irresistível, apenas para sentir o impulso decidido e instantâneo da resposta.

A caixa de velocidades, típicamente instalada fora do motor, mantém o seu carisma, sendo rústica nas mudanças de relação, mas precisa nas engrenagens, que assinala com um típico, profundo e inequívoco som metálico.  

O apelo da Street Glide provém das linhas clássicas e da sua grande apetência turística, consubstanciada por um elevado conforto a todos os níveis. A boa ergonomia, a suspensão confortável e o elevado binário, que contribui para um grande prazer de condução, são os principais argumentos que convencem os indefectíveis fãs da marca.

A proteção aerodinâmica proporcionada pela carismática carenagem Batwing montada na forquilha, dotada de uma conduta de ar para limitar a turbulência, colocada sob um ecrã para-brisas de baixo perfil, é quase referencial e torna qualquer viagem num agradável passeio.

Apesar dos seus 369 kg em ordem de marcha, e graças a um centro de gravidade extremamente baixo, para uma moto do seu género a Street Glide ST mostra-se incrivelmente ágil e fácil de conduzir, mesmo a baixa velocidade, notando-se a inerente inercia apenas no momento do arranque, a manobrar à mão ou na hora de a tirar do descanso lateral.

A inserção em curva requer uma atitude decidida, mas sem esforço, recompensada por uma grande estabilidade que confere muita confiança, mesmo em ritmos rápidos. Claro que uma Harley-Davidson não pode ser comparada a uma leve e tecnológica desportiva, mas não é por isso que deixa de proporcionar um elevado prazer de condução.

As suas dimensões e peso enaltecem a solidez de construção destacando-se o bom comportamento da suspensão, sobretudo o da forquilha cujas bainhas de 49 mm de diâmetro conseguem devolver de forma bastante perceptível o que está a acontecer na roda dianteira e digerem muito bem o afundamento sob travagem.

A suspensão traseira, tradicionalmente pouco eficaz nas Harley-Davidson de série, foi neste modelo substancialmente melhorada, com a instalação de um par de amortecedores Ohlins completamente reguláveis e com reservatório de expansão separado e cuja montagem, apesar de promover um aspecto mais agressivo, parece um pouco desajustada do estilo da moto, não fosse o pouco discreto filtro de ar cónico instalado de origem na admissão, e que tende a ameaçar a canela direita de quem tiver uma estatura maior. 

No capítulo da travagem, a Harley-Davidson também não deixou os seus créditos por mãos alheias e instalou nesta moto o seu sistema Reflex que reparte a força de travagem da manete ou do pedal por ambas as rodas. Com material de fricção Brembo e assistido por “cornering” ABS graças a uma unidade de medição de inércia, a potência de travagem é bastante boa, necessitando cuidado apenas porque é muito fácil conduzir-se esta Street Glide ST a uma velocidade superior do que aquela que se percebe, exigindo mais esforço da manete ou do pedal de travão numa situação de emergência. A menor capacidade de dosear a travagem na manete é compensada pela boa resposta do pedal que, graças ao sistema combinado Reflex, torna o uso da manete praticamente desnecessário.

A unidade de medição de inércia faz parte de um pacote eletrónico que também proporciona controlo de tração em curva, assiste o sistema de travagem automático em plano inclinado (Vehicle Hold Control) e faz a gestão do binário negativo (travão motor), para proporcionar maior estabilidade em reduções mais violentas. 

O controlo de tração pode ser desligado e apresenta um modo específico para piso molhado, que muito se agradece, pois sem a sua ajuda é muito fácil fazer patinar a roda traseira em pisos de pouca aderência.

Além das funcionalidades acima descritas, a Harley-Davidson Street Glide ST ainda está equipada com monitor de pressão dos pneus, farol Daymaker em LED e sistema de ignição sem chave.

O Sistema de infotainment Boom Box GTS integra um ecrã tátil a cores, duas colunas de som montadas na carenagem e antena de rádio integrada. Não sendo um dos melhores ou mais potentes sistemas de audio do segmento, a qualidade e o volume de som são bastante bons. O sistema tem ligação Bluetooth (ou por cabo USB) ao smartphone e auriculares, com comandos de voz para chamadas telefónicas e audio. 

No entanto a possibilidade de customização é apanágio da marca de Milwaukee, e a unidade que aqui lhe trago e que tive oportunidade de conduzir durante uma semana, é disso um bom exemplo.  

Com um preço base que começa nos 36.000 euros, a Harley-Davidson instalou nesta Street Glide ST 117 uma série da acessórios cujos preços pode verificar nos links incluídos no texto abaixo e que acresce um valor de aproximadamente 5.000 euros ao preço inicial.

Começando com um ecrã mais estilizado, o Wind Shield Splitter ST 7’’ e o respectivo friso negro, Grooved Black Windshield Trim assim como o remate da entrada de ar da carenagem frontal.

Depois destacam-se os acessórios da gama Dominion, como os poisa-pés que substituem as plataformas originais e os poisa-pés do passageiro (inexistentes de origem).
Da mesma gama também foram instalados o terminal do pedal das mudanças, o terminal do pedal de travão, as tampas douradas das porcas do eixo dianteiro e os punhos do guiador.

Não poderia faltar uma ponteira de escape Screamin’ Eagle com remates “slash cut” nem um assento estilo Drag para condutor e passageiro (de origem existe apenas um assento “solo”) e até um alternativo farolim traseiro fumado.

Disponível também em cor creme e na versão Fast Johnie, uma edição especial Enthusiast Collection inspirada nos Muscle Cars de alta performance dos anos 60 e 70, esta é uma moto que não deixa ninguém indiferente, nem quem a conduz, nem quem por ela se cruza.

Neste teste usámos o seguinte equipamento de protecção e segurança:


Capacete Schuberth  M1 PRO

Overshirt Rev'it Tracer 

Luvas Revi'it Cooper

Jeans Rev’ít Corona TF

Botas TCX Climatrek Surround GTX