Teste Lambretta G Special 350 - Sedução Requintada

Lambretta é um nome que imediatamente nos transporta para o passado.  Ícone da subcultura MOD que teve origem em Londres, no final dos anos 1950, posteriormente bem retratada no filme Quadrophenia, a marca é sobretudo um símbolo da reconstrução da Itália no pós-guerra. Mais propriamente do norte industrializado, tornando-se um símbolo de Milão.

O primeiro modelo da marca remonta a 1947 e rapidamente se tornou num símbolo do design milanês, transportando consigo para a fama o industrial Ferdinando Innocenti e consolidando o nome do designer Corradino D’Ascanio, um apaixonado pela aeronáutica que apesar de não gostar de motos e de as considerar perigosas, veio posteriormente a ser o responsável pelas linhas icónicas da Vespa, que poe sua vez se tornou num símbolo de Roma.

Depois de muitos anos e quase outros tantos problemas e litígios, a Lambretta, actualmente jbem estabelecida sob a égide do grupo austriaco KSR, já está disponível em Portugal através da Moteo, empresa que também é a responsável pelas marcas Suzuki, SYM, FB Mondial, V-Moto Soco e Peugeot scooters.

Dentro da relativamente vasta gama, que também  inclui modelos de 125 e 300cc, a Lambretta G350 que aqui lhj trago, destaca-se como uma scooter premium, com um estilo clássico, que presta homenagem às raízes históricas da marca. 

A G350 combina uma estética intemporal com os luxos da tecnologia contemporânea. Apresentando uma arquitetura monocoque exclusiva, reforçada com tubos de aço, que proporciona linhas ininterruptas para um visual mais limpo, revela-se extremamente sólida em andamento, isenta de ruídos ou vibrações.

A estabilidade também é beneficiada, sentindo-se o conjunto bem colado ao chão, aproveitando o bom desempenho da suspensão e dos pneus. Mas já lá vamos.
Aos seus comandos o que primeiro se destaca é o amplo espaço disponível. Mesmo dois ocupantes de grande estatura encontram espaço suficiente para se acomodarem. O guiador proporciona um bom apoio, os comandos estão bem posicionados e os espelhos oferecem uma boa visibilidade.

O painel de instrumentos é o primeiro a revelar a modernidade desta Lambreta. Um bem desenhado e discreto ecrã vertical em TFT, com sinalética simples, de leitura rápida e bastante completo, pois nem lhe falta conectividade Bluetooth, dá as boas vindas a bordo com um toque de requinte.

Por baixo, no escudo frontal, um guarda luvas equipado com uma tomada USB, permite despejar os bolsos, para maior comodidade.

Dar arranque começa a descobrir a suavidade de funcionamento do motor monocilíndrico. Rodar o acelerador resulta num avançar decidido e comprometido dos 25,5 cavalos que debita, mas sem receios, sentindo-se o subir de rotação progressivamente mais rápido e decidido até se atingirem velocidades sujeitas a infração. O rolar é sereno, com o escape a deixar apenas ressonar uma murmurante nota grave e refinada. 

A suspensão surpreende ao oferecer um excelente conforto, a par com uma grande eficácia em termos de estabilidade. No entanto, com dois avantajados passageiros, tanto o conforto como a estabilidade sofrem uma notória depreciação. Por seu lado a travagem parece inabalável!

Mesmo a ritmos mais elevados, as manetes revelam uma grande leveza e capacidade de dosagem, provocando uma mordida firme dos discos de 240mm de diâmetro. Os pneus Pirelli também contribuem para o bom desempenho dos travões, satisfazendo a exigência do sistema ABS, mesmo nos piores asfaltos e calçadas das nossas rodovias.

Quando as curvas chegam, porque a Lambretta pode perfeitamente enfrentar qualquer estrada com elegância e eficácia, a estabilidade do conjunto permite ritmos descontraídos graças a uma grande facilidade de condução, com a ressalva de que a pouca inclinação lateral não permite grandes devaneios. O depósito, com capacidade para 9,5 litros de combustível, permite uns bons passeios sem grande preocupação com os reabastecimentos!

Nas manobras, os 173 kg de peso fazem-se notar, em nada ajudados pela pouca brecagem da direção e pelos 1,400 mm de distância entre eixos, e claro que, debaixo do assento, podia caber um capacete integral ou as pegas do assento do passageiro poderem oferecer mais sustentação, sobretudo nos arranques. 

Mas não se pode ter tudo. E em vez de defeitos, estes pontos menos positivos são apenas pormenores, considerando o grande prazer de condução e a sedução requintada com que ela nos enfeitiça em qualquer esplanada, ao deixar-nos embevecidos com a sua qualidade de construção e acabamento, e ao ir descobrindo a cada olhar, um novo pormenor, como o desenho da chave e do comando à distância, a engenharia do gancho das compras, o emblema do Leão Rompante com a assinatura do próprio Innocenti e a iluminação integral em LED, com uma luz diurna que envolve o nome da marca.

É caso para relembrar o antigo dito popular: “Até choras… para andar de Lambretta!”