Teste Yamaha XSR900 GP - Retro Performance
Um sucesso desde que foi apresentada, no passado Salão de Milão 2023, a mais nova representante da gama Sport Heritage da Yamaha prometeu despertar emoções e cumpriu! Tanto no imaginário nostálgico dos motociclistas da “velha guarda”, como na estrada… e não só!
andardemoto.pt @ 14-5-2024 07:06:00 - Texto: Rogério Carmo
A XSR900GP homenageia a rica história desportiva da Yamaha, ao mesmo tempo que incorpora tecnologia de ponta para atender às demandas de desempenho da actualidade. Com um design que evoca a nostalgia da década de 1980 e especificações técnicas avançadas, a Yamaha define a XSR900GP como uma fusão entre um passado glorioso e um futuro tecnológico.
A Yamaha conquistou o seu primeiro título na classe principal do Campeonato do Mundo de Velocidade na década de 1970 com Giacomo Agostini. Na década seguinte, repetiu a dose com 'King' Kenny Roberts que com a sua YZR500 conquistou três títulos consecutivos.
O design da XSR900GP incorpora as cores mais icônicas da Yamaha, inspirada nas motos pilotadas por Wayne Rainey nos anos 1980 e início dos 1990. As linhas 'boxier' dessa época são refletidas nas carenagens, as primeiras da marca concebidas sem a tradicional técnica de modelo em barro, apenas com recurso a ferramentas digitais de 3D.
A contrastar, recebeu o motor CP3 da Yamaha, nascido em 2016 e que revelou imediatamente um enorme agrado pelo seu potencial desportivo, com foco na disponibilidade dos 93Nm de binário registados às 7000rpm, e uns não menos significativos 119cv de potência que sobem alegremente até para lá das 10.000rpm.
No entanto, para se tornar a alma da nova XSR900GP, o tricilíndrico de 890cc recebeu uns “mimos”, sob a forma de um pacote eletrónico muito completo, que disponibiliza 3 modos de condução pré-definidos, (‘SPORT’, ‘STREET’ e ‘RAIN’) e dois modos de utilizador que podem ser programados a gosto.
Para elevar ainda mais o seu potencial e refinar o seu desempenho, recebeu uma unidade de medição de inércia de seis eixos, derivada da utilizada na R1, que comunica com a centralina (ECU) para coordenar a entrega de potência com os sistemas de controlo de tração e anti-cavalinho e a potência de travagem, para garantir que ambas as rodas permanecem sempre bem coladas ao piso.
Para potenciar ainda mais o prazer de condução, a XSR900 GP recebeu também um quickshifter de terceira geração, que permite trocas de caixa em qualquer situação, como reduzir com o acelerador aberto, ou engrenar uma mudança acima com o acelerador fechado, funcionalidade que eleva para outro nível a já gratificante experiência proporcionada por se poder trocar as mudanças sem recurso à embraiagem.
A ciclística também foi alvo de atenção. Recebeu uma forquilha telescópica invertida KYB, completamente ajustável, com um curso de 130 mm e um amortecedor traseiro da mesma marca, com sistema “link” que permite um curso de 131mm e oferece uma prática regulação remota da pré-carga.
Na travagem, a Brembo forneceu o equipamento, que inclui uma bomba principal radial e discos de 298mm de diâmetro na roda dianteira. Para aumentar a sua eficácia, conta ainda com a utilização de jantes de liga leve calçadas com os novos pneus desportivos Bridgestone Battlax Hypersport S23 de medidas 120/70-17M/C e 180/55-17 que também são dignos de destaque pelo seu excelente comportamento.
Ergonomicamente a XSR900 GP é… bem, é uma desportiva, conceito que não permite grandes mordomias com o condutor, que normalmente conduz anestesiado por elevadas doses de adrenalina.
O peso do tronco nos pulsos, apoiados num guiador de avanços, a força da aceleração nos bíceps, as pernas sempre fletidas, apesar das duas posições de instalação dos poisa-pés, o abdómen esborrachado no depósito de 14 litros que proporciona um bom apoio para os joelhos, as costas dobradas e o respetivo fundo apenas suportado por um exíguo espaço, nunca foram um sinónimo de conforto, menos ainda para os condutores de estaturas mais avantajadas.
No entanto, ao cabo de um dia aos seus comandos, percorrendo mais de 200 quilómetros pelas estradas pouco cuidadas e bastante movimentadas da nossa zona saloia (Ericeira e arredores), não necessitei de recorrer a analgésicos ou a relaxantes musculares, o que significa que, afinal, a ergonomia não é assim tão má!
Esteticamente a Yamaha XSR 900GP é aquilo a que os americanos costumam chamar de Show Stopper. Ninguém lhe fica indiferente, seja onde for. Homologada para 2 ocupantes, disfarça-se de monoposto com uma capa que cobre o assento do passageiro e elegantes poisa-pés escamoteáveis que quando não usados passam despercebidos, encostados ao sub-quadro.
Apesar de disponível também em preto e cinza, a decoração GP, vermelha, branca e amarela, é a que melhor lhe realça as linhas nostálgicas. Mas a Yamaha ainda disponibiliza um “kit racer”, composto por uma carenagem inferior, ecrã pára-brisas fumado, suporte de matrícula minimalista e uma linha de escape Akrapovic.
O respeito pelo aspecto retro levou a Yamaha a desenvolver um sistema de iluminação frontal que não destoasse no conjunto. Apesar de não ter podido verificar a sua eficácia, tenho de reconhecer que, esteticamente resulta muito bem.
O cockpit, também ele de inspiração retro, com a estrutura de suporte da carenagem frontal à vista, beneficia de um painel de instrumentos sob a forma de um TFT de cinco polegadas, animado por diversos temas, que incorpora navegação e conectividade permitindo uma fácil exploração dos diversos menus e a realização de diversas configurações, com recurso a um interface simplificado, bastante intuitivo e de fácil acesso, além de bastante discreto, sem atafulhar o guiador com botões.
Em andamento a XSR 900GP revela-se logo nos primeiros quilómetros. Rápida, compacta, sólida, previsível. São os adjectivos que se iam acomulando nos meus apontamentos mentais, enquanto a conduzia.
O alegre subir de rotação do motor, a delicadeza da caixa de velocidades, o refinamento do quickshifter e até a forma pouco intrusiva com que as ajudas eletrónicas entram em funcionamento, são apenas parte dos ingredientes que proporcionam um imenso prazer de condução.
E, mesmo a circular em ambiente urbano, ou a apreciar a paisagem, a XSR 900GP mostra-se extremamente civilizada e fácil de conduzir e manobrar, também graças ao seu centro de gravidade bastante equilibrado e peso que ronda uns razoáveis 200 quilos a cheio.
Uma travagem exemplar, tanto em termos de potência como de dosagem, um comportamento bastante intuitivo na entrada em curva, a manter a trajetória como se fosse a compasso e a permitir acelerar com bastante convicção depois do apex, esta Sport Heritage faz jus à sua herança, permitindo explorar o motor com imensa confiança.
A suspensão, definitivamente desportiva, consegue ainda assim minimizar o desconforto nas ruas e estradas mais degradadas. Mas o seu maior mérito é a forma como consegue potenciar a tração e aproveitar a boa aderência dos pneus, mesmo nos pisos mais irregulares.
Sinceramente, não sendo um tipo de motos que aprecie, sobretudo pela minha avantajada fisionomia, que não me permite sentir confortável aos seus comandos, tenho que admitir que me diverti bastante durante o dia da sua apresentação internacional, realizada pela Yamaha Motor Europe aqui no nosso país.
Até porque ainda pude voltar a pisar o asfalto do Circuito do Estoril onde, apesar da muita ferrugem causada pela larga ausência e manifesta falta de preparação física, pude aproveitar para reviver velhos tempos, fazer algumas das fotos que ilustram estas páginas e apreciar a confiança que todo o conjunto proporciona quando lhe exigimos ritmos que não são nada aconselháveis na via pública.
A Yamaha XSR 900GP é seguramente uma moto muito interessante para devorar umas estradas de curvas, numa sessão terapêutica de fim-de-semana, e que muito provavelmente se vai tornar numa companheira inseparável, num grande orgulho e num motivo de inveja ao longo dos anos, sem nunca perder os seus encantos.
andardemoto.pt @ 14-5-2024 07:06:00 - Texto: Rogério Carmo
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