Teste Moto Guzzi V7 Sport - Charme e Requinte

Uma das mais emblemáticas motos da cena clássica-moderna do motociclismo foi renovada. Não perdeu o estilo nem o charme, mas ficou mais requintada.

andardemoto.pt @ 24-6-2025 17:46:30 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte

A Moto Guzzi V7 remonta a 1961, época em que o sucesso do automóvel produzido em massa estava a provocar uma redução drástica na procura de motociclos. 

Depois de, desde 1921 ter conquistado 3.329 vitórias em corridas oficiais, 14 títulos mundiais e 11 vitórias do Tourist Trophy da Ilha de Man, a Moto Guzzi, dotada de uma invejável capacidade de engenharia, respondeu à desaceleração do mercado diversificando o seu foco, começando a fabricar desde triciclos de carga a maquinaria agrícola e veículos especiais, incluindo automóveis, na sua fábrica de Mandello del Lario.

Para os automóveis, o brilhante engenheiro Giulio Cesare Carcano concebeu um motor V-twin a 90°, refrigerado a ar, capaz de atingir os 140 km/h, destinado a uma versão desportiva do Fiat 500.
O motor foi bem recebido na “Fabbrica Italiana Automobili Torino”, mas as quantidades anuais pretendidas excediam a capacidade de produção da fabricante de Mandello del Lario, e o acordo acabou por não se concretizar. 


Entretanto, o governo transalpino lançou um concurso para o fornecimento de motociclos à Polícia de Estrada Italiana. A vencedora seria a moto capaz de percorrer 100.000 km com os menores custos de manutenção.

Era a ocasião ideal para a Moto Guzzi montar o motor de Carcano numa moto. Assim nasceu a Moto Guzzi V7, um projecto inovador que combinava os padrões de fiabilidade automóvel com um nível de conforto e acessibilidade mecânicas sem igual, fator que também captou o interesse de forças policiais estrangeiras.

A produção da nova V7 700 iniciou-se em 1964. A nova moto dispunha de um motor instalado transversalmente, com uma cilindrada de 703,3 cc a debitar 40 cavalos de potência, registando um peso de 230 kg.


Em 1966 começou a produção em série para as forças policiais e mercados externos, tendo-se tornado famosa pela “Highway Patrol” da polícia de Los Angeles . No ano seguinte, a V7 700 passou a ser vendida ao público em Itália, com um preço significativamente mais acessível do que as suas concorrentes alemãs e inglesas.

A criação de Giulio Cesare Carcano foi posteriormente aperfeiçoada por um engenheiro de desenvolvimento que se juntou à Moto Guzzi em 1967: Lino Tonti. 

Com ampla experiência nas corridas de motos, em marcas como Mondial, Bianchi e Gilera, foi-lhe confiada a missão de expandir a gama das maxi-motos de Mandello del Lario. A V7 tinha chegado ao mercado no momento certo: as motos estavam a regressar à moda, quase como uma reacção ao conformismo automóvel, e o mercado mostrava-se particularmente receptivo à inovação.
A primeira intervenção de Tonti foi aumentar a potência para 45 cavalos, lançando em 1969 a V7 Special, um modelo mais rápido, requintado e elegante face à V7 700.


Mas foi o passo seguinte que se tornou a obra-prima de Tonti: a V7 Sport. O engenheiro de Forlì tinha uma visão clara e definiu três parâmetros para a desportiva de Mandello: 200 km/h, 200 kg de peso e 5 velocidades. Para alcançar esses objectivos, modificou o motor, aumentando a cilindrada para 748,3 cc, redesenhou a cambota e admissão, e o resultado final ultrapassava os 52 cavalos de potência.

A V7 Sport estreou-se em 1971 e, em Junho do mesmo ano, participou na prova “500 Quilómetros de Monza”, conquistando o terceiro lugar. Foi o início de uma série de desempenhos notáveis em corridas de resistência, como as 24 Horas de Le Mans e de Liège, que, em conjunto com pilotos populares como Vittorio Brambilla, tornaram a V7 Sport na moto desportiva italiana mais célebre da década de 1970.


Chegados a 2025, depois de muitas evoluções ao longo dos anos, a V7 foi novamente revista para complacer os parâmetros da norma de emissões Euro5+.
No entanto a Moto Guzzi não se ficou só por aí. Uma nova forquilha invertida e dois discos de travão na roda dianteira reforçaram a atitude desportiva enquanto melhoraram significativamente o desempenho dinâmico.

Por outro lado, o acelerador Ride-by-Wire melhorou a entrega de potência, proporcionando Modos de Condução e Cruise Control. Uma Unidade de Medição de Inércia aumentou substancialmente a segurança graças a um melhor desempenho do ABS.

Mas olhando para ela as linhas mantêm-se, nostálgicas, simples, definidas pelas salientes cabeças dos cilindros.

Não basta sentarmo-nos aos seus comandos para se perceber a diferença. Dar motor de arranque, aguentar o característico impulso causado pelo acordar do motor que surge para a vida com o seu ronco compassado, são sensações familiares. É necessário começar a rolar para se perceber a maior agilidade do conjunto.

Ao percorrer todos os níveis do seletor de mudanças, à medida que a velocidade aumenta, é que se começam a notar as grandes diferenças. O bicilíndrico parece mais solto. O acelerador é mais suave na entrega mas a subida de rotação é mais intensa, a travagem é doseável e mais incisiva e curvar é mais intuitivo.

A condução sai mais natural, sem esforço, tornando-se um verdadeiro prazer. E se se quiser acelerar mais um pouco, para descarregar o stress, a confiança que o conjunto imprime numa estrada de curvas é suficiente para rasgar um enorme sorriso dentro do capacete!

Com esta V7 Sport, carregada de charme e requinte, as voltas do dia-a-dia, as curvas do fim-de-semana e as pequenas escapadelas esporádicas passam a outro nível. Um nível em que a vontade de ir para a estrada desfrutar dela, passa a ser quase uma fixação!

andardemoto.pt @ 24-6-2025 17:46:30 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte


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