Teste Moto Guzzi Stelvio - Quintessência Transalpina
Renovada sem perder a sua essência, a nova Stelvio é uma Adventure Tourer versátil e sofisticada que garante conforto, performance e prazer de condução a par com um estilo muito próprio.
andardemoto.pt @ 21-5-2024 07:12:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
Era uma questão de justiça. A Stelvio nasceu em 2008, batizada com o nome da estrada alpina italiana, famosa pelas suas 48 impressionantes curvas empilhadas. Marcou uma geração de motos que se destacavam pelo seu elan e exclusividade, a par com um imaginário de liberdade e aventura.
Uma motorização única, uma atitude rebelde e linhas provocadoras, tornavam-na numa moto exclusiva, cheia de caráter e extremamente confortável para viajar, sem medo de enfrentar maus caminhos, e que por isso, e pela sua exclusiva transmissão por veio e cardã, se destacava no seu segmento.
Isto, muito antes até de a maioria dos motociclistas descobrirem a conveniência e o prazer de condução proporcionados por uma Maxi-Trail.
Ao longo dos anos fui, por diversas vezes, muito feliz aos seus comandos, durante bastantes quilómetros. A última vez que tinha conduzido uma Stelvio foi nos idos de 2012, quando percorri com ela muitas das belas estradas e caminhos do nosso Baixo Alentejo raiano e Sotavento Algarvio, onde ela me mostrou tudo o que podia oferecer, tanto de bom como de mau.
Era uma versão NTX, carregada de equipamento topo de gama, sobretudo ao nível da travagem e da suspensão, que potenciava o desempenho do seu imponente e característico motor V2 a 90º, de instalação transversal.
Infelizmente, em 2017, a entrada em vigor da norma de emissões Euro 4 determinou o fim da sua produção, juntamente com a de outros modelos da marca que partilhavam entre si o incansável bicilíndrico de 8 válvulas, com 1200cc.
Agora tive novamente a oportunidade de conviver com a Stelvio, mas a da nova geração, apresentada e cobiçada no Salão de Milão de 2023.
Encontrámo-nos no Porto, passeámos pelo Douro, viemos até Lisboa, fomos ver o nascer do Sol e fazer umas fotos a Setúbal, deambulámos pela Serra da Arrábida, rumámos depois à Ericeira, subimos a Montejunto e ainda tivemos tempo para stressar no meio do trânsito urbano e de fim-de-semana.
E foi uma boa partilha ao longo de quase 1000 quilómetros! E não, não pisámos muita terra! Foi sobretudo asfalto, uns quantos atalhos empoeirados e calçadas. O normal para quem quer, a solo ou com uma boa companhia de passageiro, descobrir gentes e locais, mas não pretende embrenhar-se demasiado na natureza!
Muito mais adelgaçada, esguia e baixa que as suas antecessoras, a nova Stelvio tornou-se aparentemente mais leve e definitivamente mais ágil e manobrável.
Manteve o conforto, com uma excelente proteção aerodinâmica e uma suspensão muito eficaz a alizar o asfalto mas também a garantir um bom comportamento em curva, e a praticidade, com um regulador remoto para ajustar a suspensão traseira consoante a carga, um ecrã pára-brisas eletricamente regulável em altura e um interface de utilizador simplificado e bastante intuitivo, apoiado por um ecrã TFT a cores de 5 polegadas que oferece uma vasta gama de informações.
Recebeu uma eletrónica actualizada, com acelerador “ride by wire” e 5 modos de condução pré-programados (Tourism, Rain, Street, Sport e OffRoad) customizáveis com 3 mapas de entrega de potência, 4 níveis de controlo de tração, 3 níveis de travão-motor e 2 níveis de intervenção do ABS.
Uma unidade de medição de inércia de 6 eixos proporciona-lhe as vantagens de um Cornering ABS. O equipamento de série inclui ainda um sistema de iluminação full LED com luzes de circulação diurna DRL, iluminação adaptativa em curva e uma porta USB localizada na lateral do painel de instrumentos.
A nova Stelvio está ainda preparada para receber a Plataforma Multimédia Moto Guzzi MIA, disponível como equipamento opcional, que permite a conetividade entre a moto e um smartphone possibilitando, entre outros recursos, a gestão de chamadas, com assistência de voz, seleção de músicas e navegação no painel de instrumentos.
Apesar de a unidade de teste que me foi atribuída não vir equipada com essa funcionalidade, a Moto Guzzi Stelvio pode também ser equipada com o sistema PFF Rider Assistance, que está disponível apenas como opção de fábrica. Trata-se de um sistema de assistência à condução, baseado em tecnologia 4D Imaging Radar que proporciona Forward Collision Warning (FCW), Blind Spot Information System (BLIS) e Lane Change Assist (LCA).
O BLIS notifica o condutor, através de sinalizadores colocados nos retrovisores, da presença de outros veículos localizados nos “ângulos mortos” dos espelhos.
Por seu lado o LCA monitoriza uma área até 30 m de distância da traseira da moto, identificando veículos que se aproximem rapidamente e que possam eventualmente constituir um risco durante uma mudança de faixa de rodagem. Em qualquer caso, o condutor é alertado através de avisos sonoros e/ou visuais.
Por último, existe o Following Cruise Control (FCC), outro sistema opcional que funciona como um cruise control adaptativo, que utiliza o radar frontal para adaptar a velocidade da moto à do veículo que circula na sua frente, sendo certo que apenas atua ao nível da eletrônica e do motor para reduzir a velocidade, sem nunca activar a travagem, ao contrário de outros sistemas.
O motor ‘compact block’, estreado na Moto Guzzi V100 Mandello (que já tivemos oportunidade de testar), carateriza-se essencialmente pela sua reduzida dimensão, baixo peso, grande eficiência e elevado binário.
Mantendo a configuração tradicional das Moto Guzzi, o V2 a 90º possui dupla árvore de cames e 4 válvulas por cilindro, tendo uma capacidade efetiva de 1042cc, capaz de debitar 115cv às 8,800rpm, com um binário máximo de 105Nm às 6750rpm.
Ao disponibilizar 82% do binário máximo logo às 3500rpm, permite uma condução despreocupada em qualquer relação de caixa, mesmo quando carregada com passageiro e bagagem. No que aos consumos de combustível diz respeito, a Stelvio é bastante regrada, permitindo autonomias elevadas, bastante superiores a 300 quilómetros, com médias horárias bastante aceitáveis. Mesmo com alguns troços feitos de forma bastante efusiva, é possível fazer consumos inferiores a 6 litros/100km.
A caixa de velocidades mostra-se bastante suave e precisa, pois foi redesenhada propositadamente para oferecer passagens de caixa mais suaves e mais rápidas, assistidas por um quickshifter (opcional) desenvolvido especialmente para este modelo. A embraiagem mostra-se bastante controlável, com a manete, também ajustável em amplitude, a proporcionar um accionamento bastante leve.
A transmissão final por veio e cardan tem um desempenho excelente, sem efeitos secundários na condução, e faz uso de um impressionante monobraço colocado no lado esquerdo da moto, fabricado em alumínio, que quando comparado com o da V100 Mandello foi reforçado para responder com confiança a utilizações mais exigentes, como nas incursões fora de estrada.
Para tal, também o design do quadro, que utiliza o motor como elemento autoportante,integra agora quatro pontos de ancoragem, ao invés dos dois presentes na V100Mandello, e que segundo a marca proporcionam um incremento de 20% da rigidez estrutural, conveniente numa utilização mais exigente em pisos menos regulares.
Em andamento a Stelvio revela uma ótima distribuição de massas, para a qual contribui a geometria do depósito de combustível de 21 litros, que se estende por debaixo do assento, contribuindo para o rebaixamento do centro de gravidade. Como resultado, a precisão das trajetórias e a estabilidade em curva destacam-se em andamentos mais rápidos nos troços mais revirados.
A atitude touring é garantida pelo amplo assento, posicionado a apenas 830 mm do solo, e pela posição de condução que mantém as pernas apenas ligeiramente fletidas, tanto para o condutor como passageiro. No entanto, pessoalmente, recomendo a instalação do assento opcional, que além de estar disponível em 3 alturas, está equipado com aquecimento, e promete um maior conforto nas grandes tiradas.
A suspensão reage bem às maiores irregularidades e impactos, graças aos seus 117mm de curso em ambos os eixos e apresenta uma suficiente firmeza em curva, mesmo quando o ritmo de condução aumenta, com pouco afundamento tanto da forquilha ajustável de 46mm de diâmetro, como do monoamortecedor traseiro.
A travagem está a cargo de material Brembo, tanto na parte hidráulica como na parte de fricção, e se algum defeito se pode apontar à Stelvio, é precisamente o facto de a mordida inicial das pinças de 4 pistões nos discos de 320mm de diâmetro da roda dianteira, ser demasiado forte e difícil de evitar, o que a manobrar e a andar mais depressa em pisos menos consistentes ou mais escorregadios, pode ser um problema, além de desconfortável, sobretudo com passageiro.
Fora isso, tem potência de sobra para parar os 250kg de peso a cheio do conjunto, mais a carga dos ocupantes e da bagagem. Uma nota positiva ainda para o bom desempenho dos pneus Michelin Anakee Adventure.
Os cerca de mil quilómetros que percorri aos comandos da nova Stelvio revelaram que esta italiana prima por um comportamento muito próprio, que potencia o prazer de condução:
Da disponibilidade e do caráter do motor ao comportamento em curva, do conforto à confiança que incute em qualquer tipo de piso, da imagem exclusiva à excelente qualidade de construção, pouco ou nada há que apontar.
Apesar de estar equipada com um considerável pacote eletrónico, as suas funcionalidades são facilmente acessíveis e pouco distrativas.
Não é uma desportiva nem uma verdadeira endurista mas mexe-se muito bem em qualquer piso, não é demasiado grande mas nunca se mostra acanhada, não é leve, mas mostra-se bastante ágil,… enfim, é uma moto diferente, uma viajante exclusiva, com equipamento de muita qualidade e bons acabamentos.
Uma daquelas motos que chama a atenção onde quer que pára, e que provoca sorrisos por onde quer que ande!
Torne-a sua:
A Moto Guzzi disponibiliza para a Stelvio uma alargada gama de acessórios com o objetivo de incrementar o conforto de condução e as necessidades práticas de cada tipo de utilização.
Destacam-se as malas laterais, que não necessitam de suportes adicionais e que têm capacidade em cada uma delas para guardar um capacete integral, top cases de 37 ou 52 litros, o já referido assento conforto aquecido (em configurações alta e baixa) para o condutor e para o passageiro, punhos aquecidos (ajustáveis em 3 níveis), proteções de motor, proteções das cabeças dos cilindros, descanso central, luzes auxiliares em LED e quickshifter.
A Moto Guzzi Stelvio está disponível em dois esquemas cromáticos, ambos em tons mate: Giallo Savana (nas fotos) e Nero Vulcano.
Equipamento:
Neste teste usámos o seguinte equipamento de protecção e segurança:
Capacete Arai Tour X5
Casaco RST Maverick Evo
Calças RST Maverick Evo
Luvas RST Adventure-X
Botas RST ADVENTURE-X MID
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