Teste Ducati Hypermotard 698 Mono - Seriamente Irresponsável
Entre contas para pagar, miúdos para criar e um quotidiano exigente, a dedicação às máquinas que tanto adoramos revestem a nossa paixão com uma forte pátina de responsabilidade. Mas esta Ducati provoca-nos a seriedade com o seu monocilindrico desmodromico mais potente de sempre. Numa arquitectura que rima com loucura, de seu nome Hypermotard.
andardemoto.pt @ 20-8-2024 07:00:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte
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Ducati Hypermotard 698 Mono | Moto | HypermotardFoi pouco antes da EICMA de 2023 que a Ducati surpreendeu o mundo das duas rodas com um novo motor aplicado a uma fórmula já bastante conhecida. A Hypermotard ganhava um monocilíndrico derivado do poderoso V2 desmodromico, e os seus valores de potência prometiam ser dos mais elevados do segmento. Carregada de electrónica e com a mesma atitude provocadora, a nova 698 Mono gosta de ser o centro das atenções. Resta a questão...será um brinquedo para miúdos ou graúdos? Na certeza de que a diversão estaria garantida, empenhei-me na busca de respostas…
Qualquer moto desta tipologia tem uma presença visual que nos assalta os sentidos. A aparente incongruência nas soluções propostas e a sua agressividade mecânica são dois factores que nos põem em alerta. O porquê de alterar a estrutura típica de uma moto de todo o terreno para uma configuração asfáltica, sugere uma saudável loucura, onde o disparate ganha tons de seriedade. Jantes de liga montando pneus de asfalto (neste caso uns Pirelli Diablo Rosso IV), suspensões de menor curso com afinação desportiva (aqui temos uma forquilha Marzochi com um diâmetro de 45 mm e um monoamortecedor Sachs a trabalhar sobre um braço oscilante em alumínio), ambas totalmente reguláveis, e uns travões sobredimensionados (um gigantesco disco dianteiro de 330 mm de diâmetro mordido por umas pinças Brembo M4.32) dão-nos fortes indicações de que esta menina gosta de se portar mal. Alta, esguia e espartana nos artifícios, a sua estética (com a versão RVE, de decoração mais agressiva e com quick-shifter de série) ganhou o prémio de moto mais bonita da EICMA. Não posso deixar de concordar, não consigo deixar de lhe admirar as formas.
A dura realidade das minhas parcas dimensões físicas surge sob a forma de um ridículo pézinho no ar, fruto de uma exigente altura do assento (são 905 mm até ao solo). A posição de condução sugere uma constante faena tauromáquica, em que o guiador baixo e largo conjugado com a liberdade de movimentos do quadril põe a gritar: “Eh Touro Liiindo!!”, o mais empedernido dos vegetarianos.
A Ducati Hypermotard 698 Mono (à semelhança da restante família) é uma moto sem grandes compromissos, servindo-se da sua simplicidade camuflada para nos colocar em sentido. No meio da habitual funcionalidade de todos comutadores, o ambiente geral é de qualidade, mesmo que o ecrã digital nos omita o nível de combustível e a respetiva autonomia. A ideia percebe-se, quando a luz da reserva se acende e a brincadeira acaba. Ponto! Por outro lado, a interacção com a miríade de ajustes electrónicos é bastante directa (sendo que a maior parte deles conseguimos parametrizar em andamento). Com a ajuda de uma IMU de 6 eixos temos cornering ABS, Controlo de tracção e Anti-Wheelie, todos eles com um gradiente que nos permite oscilar entre a sanidade e a loucura.
A Ducati Hypermotard 698 Mono (à semelhança da restante família) é uma moto sem grandes compromissos, servindo-se da sua simplicidade camuflada para nos colocar em sentido. No meio da habitual funcionalidade de todos comutadores, o ambiente geral é de qualidade, mesmo que o ecrã digital nos omita o nível de combustível e a respetiva autonomia. A ideia percebe-se, quando a luz da reserva se acende e a brincadeira acaba. Ponto! Por outro lado, a interacção com a miríade de ajustes electrónicos é bastante directa (sendo que a maior parte deles conseguimos parametrizar em andamento). Com a ajuda de uma IMU de 6 eixos temos cornering ABS, Controlo de tracção e Anti-Wheelie, todos eles com um gradiente que nos permite oscilar entre a sanidade e a loucura.
E em andamento, começa o maior dos meus dilemas aos comandos desta moto. Como nunca consegui ser um adolescente que empinava a roda da frente da sua DT (mas adorava poder ter sido), o boné que estaria virado para trás aos 16 anos fica hoje preso na cintura, ganhando o seu protagonismo única e exclusivamente para proteger a careca dos malditos melanomas. Sinto-me velho quando o fotógrafo pede tropelias num parque de estacionamento abandonado e eu apenas quero voltar para a estrada aberta. Não sou um stunt rider, mas sei puxar as orelhas a uma moto enquanto lhe procuro os limites, e a 698 Mono rapidamente percebeu a ausência de chinelos nos pés e que os meus “graus” eram de inclinação lateral.
Serra abaixo, serra acima, fomos chegando a um consenso. Travando cada vez mais tarde, a sua vontade de soltar a traseira revelava uma latente propensão para o desequilíbrio. Da mesma forma, nas saídas de curva em potência, a roda dianteira levitava sem grande esforço, muito graças ao trabalho árduo do pequeno grande motor (Monocilíndrico com 659 cc, debitando 77,5 cv às 9750 rpm e 63 Nm às 8000 rpm), que mesmo com um isolado cilindro gosta de mostrar a sua raça.
Como qualquer desmodromico, a sua personalidade forte revela-se sem grandes cerimónias. Não gosta de trabalhar abaixo das 3k rotações, e tem um funcionamento áspero e rude. Mas quando a caixa de ar se enche a pedido do punho direito, a vivacidade que demonstra surpreende e cativa, e consegue manter o fôlego até bem próximo do limitador. Se dúvidas houvessem, o DNA Ducati está bem presente neste monocilíndrico. Cheio de carácter, ficámos com curiosidade de testar este modelo com os opcionais escapes Termignoni (assim como, com um quick-shifter).
Todo o trabalho das suspensões e da travagem, seja pelo refinamento na leitura do piso, seja pela capacidade de conseguirmos transformar a acção milimétrica da manete em potência de actuação, estão acima de qualquer reparo. Esta Hypermotard está longe de ser um bisturi, porque a sua natureza irrequieta não lhe permite, mas consegue acertar as trajectórias todas. O problema reside na sua capacidade de nos querer tirar do sério. Eu considero-me alguém que gosta de pilotar certinho, de minimizar o erro baseado na tolerância que o contexto me entrega, ou seja, na fronteira do razoável, tentar proteger-me o suficiente para conseguir saber onde está o seu zénite. Esta moto pede o caos controlado e, por demasiadas vezes, leva a sua avante (seja com joelho técnico com perfume de circuito ou com perna esticada a fingir que vamos a roçar o calcanhar nas pedras…).
A electrónica amplia a margem de segurança para podemos explorar as suas capacidades dinâmicas. O conjunto ciclístico é irrepreensível no seu feedback mecânico e a sua desenvoltura motriz conquista-nos pela sua argúcia. Resta-nos a nós decidirmos o quanto queremos ser irresponsáveis, caminhando entre a linha ténue que separa os anjos dos demónios.
Como produto, o valor por ela pedido (desde 13145 €) equipara-a a nakeds desportivas com quase o dobro da potência (uma Triumph Street Triple 765 RS custa 12.795 €, por exemplo) e com horizontes muito mais largos no campo da performance pura. Obviamente que, na conversa de café, podemos dizer que o novo Superquadro Mono tem as mesmas válvulas de titânio da Panigale 1299…
Tal como vos disse no princípio, não sou artista de circo. Tenho muito mais apetência para procurar a trajectória limpa do que provocar desequilíbrios e travessuras. Não obstante, a nova Hypermotard 698 Mono ajuda a soltar esse lado menos convencional da pilotagem. No seu conjunto, consegue uma eficácia extraordinária, mas obriga-nos a estar em cima do acontecimento. Trava muito, tem uma optima ligação entre o acelerador e a roda traseira e em todos os momentos conseguimos explicar-lhe o que queremos fazer, independentemente de termos 25 ou 50 anos. Comecei este teste a pensar que ia andar num brinquedo e acabei convencido da sua competência e, nesta fase da minha vida motociclística, é muito bom ser surpreendido.
Equipamento:
Capacete: NEXX X.WED 2 CARBON Zero Pro
Blusão: REV’IT! Flare 2
Calças: REV’IT! Jeans Lombard 3 RF
Luvas: REV’IT! Volcano
Botas: REV’IT! Arrow
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