Teste BMW R1300 RT - Até ao fim do mundo!
Não há muitas motos que permitam fazer grandes viagens, com passageiro e bagagem, cumprindo longas tiradas sucessivamente, garantindo proteção aerodinâmica capaz de enfrentar meteorologias adversas, com conforto e um grande prazer de condução. Mas esta BMW R1300 RT é uma dessas! Uma verdadeira turística!
andardemoto.pt @ 25-9-2025 06:53:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
Antes de tudo, queiro deixar claro, e quem me conhece sabe isso perfeitamente, que ao longo dos anos, em qualquer cenário de viagem de longa distância, uma “RT” tem sido sempre uma das motos que eu, sem qualquer dúvida, escolhia como parceira.
Não tendo tido qualquer contacto com a R100RT dos finais dos anos 70, cujo boxer era exclusivamente refrigerado a ar, nem com as versões 1100 e 1150, estas já com refrigeração mista por ar e óleo e ambas com apenas duas válvulas por cilindro, o meu primeiro contacto com as RT (Reise Tourer, que é como quem diz viajante de turismo) teve lugar em 2008, já com a renovada versão R1200RT, de 4 válvulas (2 por cilindro) igualmente refrigerada a ar e óleo.
Lembro-me também do grande avanço que surgiu em 2010, quando a RT recebeu o novo motor boxer com dupla arvore de cames e 8 válvulas (4 por cilindro), derivado da unidade motriz que fez sucesso na mítica HP2 Sport, e que ainda hoje é utilizado nas novas R12 e anteriormente nas R nineT, e que, não apenas na minha opinião, é o motor que melhor define o espírito dos boxer bávaros, devolvendo em puro prazer de condução cada enrolar de punho. Prova que nem só de potência vive um motociclista. Mas adiante!
Em 2014 as RT receberam o primeiro motor com refrigeração por líquido, usando a denominação R1250, já com o boxer bicilíndrico literalmente virado ao contrário, pelo que o escape aparece do lado direito, em vez de no lado esquerdo como nas versões anteriores.
Mas a que me ficou bem marcada na memória foi a versão retocada de 2021, dotada com a mais recente inovação tecnológica do mundo das motos: o Cruise Control Adaptativo, fruto da integração de radar, disponível como acessório de fábrica, e com o imponente painel TFT de 10,25” com navegação integrada.
Pensava eu então que as RT tinham atingido o topo da sua carreira, e que seria muito difícil conseguir melhorar. Estava enganado! Ou talvez não! E claro que vou explicar:A RT foi sempre caracterizada pela facilidade de condução, pela tolerância que proporcionava, pela compostura que mantinha em caso de excesso, graças à sua grande estabilidade, quase inabalável!
Não era uma moto muito rápida, mas permitia fazer rapidamente grandes viagens. Contrastando com o seu grande volume, a grande agilidade em manobra e a relativa facilidade com que bailava de curva em curva, faziam dela uma verdadeira benção para os motociclistas que pretendiam uma moto polivalente, que tanto permitisse uma utilização diária ou partir para grandes viagens, com passageiro e muita bagagem.
A versão de 2021 também se demarcava com uma estética luxuosa, requintada, potenciada pelo elevado nível de acessorização e ajudas eletrónicas à condução. Era uma verdadeira gentleman's bike, composta na atitude, regrada na resposta, com potência mais do que suficiente e, sobretudo, capaz de ir a qualquer lugar.
Mas chega de história. Até porque a nova Reise Tourer é uma moto completamente nova, bastante diferente da versão anterior.
A nova BMW R 1300 RT apresenta um design mais depurado, retilíneo e menos requintado, com um depósito mais plano e uma carenagem frontal redesenhada, que reduz o volume visual de tal forma que, quando aos seus comandos, parece uma moto muito mais pequena, até porque o triângulo ergonómico formado entre o guiador, poisa-pés e assento, foi puxado mais para a frente, com o guiador sendo agora mais largo, resultando numa posição de condução mais reativa.
As carenagens foram otimizadas aerodinamicamente e melhoram o fluxo aerodinâmico, incluindo painéis basculantes laterais que oferecem proteção ajustável às condições meteorológicas, e que permitem maior ou menor canalização do ar para o condutor.
O pormenor do design foi ao ponto de criar defletores na parte inferior da carenagem para proteger os pés do motociclista, deixando-os mais secos e mais limpos em caso de chuva. Além disso, o substancial ecrã frontal com regulação elétrica em altura, também proporciona uma proteção realmente à prova de intempérie!
Quando me sentei aos seus comandos pela primeira vez, já tinha a certeza que não ia encontrar apenas uma evolução da versão 1250. As suas irmãs R 1300, as GS E GS Adventure, que partilham a mesma base e que já tinha tido oportunidade de testar, tinham um comportamento tão diferente das suas respetivas versões anteriores que a RT não podia ser excepção.
O motor, agora com 1300cc e com o curso dos pistões ligeiramente encurtado, é capaz de rapidamente desenvolver 145cv às 7.750rpm a partir de um binário de 149 Nm, e consegue mover os 281kg de peso em ordem de marcha de forma realmente impressionante.O quadro redesenhado, sendo declaradamente mais rígido, é responsável por sensações de condução mais puras e diretas, revelando-se mais reativo, mais preciso no desenho das trajetórias, mais incisivo na entrada em curva e mais nervoso sob aceleração ou travagem.
Em termos de assistência eletrónica à condução, a RT vem equipada com tudo o que a BMW Motorrad tem no seu arsenal, como unidade de medição de inércia, suspensão eletrónica, radar, farol adaptativo, malas com fechos elétricos automáticos, rádio e altofalantes e o já conhecido e invejável painel de instrumentos de 10 polegadas com integração de GPS.
Um verdadeiro luxo, complementado por tentadores Packs de acessórios, que fazem com que, por exemplo, esta versão que pode ver nas fotos, Azul Ridge Mountain metalizado, carregada de acessórios Option 719, tenha um P.V.P final de 35.652,69 Euros, à data deste teste.
Outro dos grandes argumentos desta RT é ter a caixa de velocidades automática, o sistema ASA. Calhou bem porque, 3 semanas antes, tinha feito uma escapadela de mais de 1000 quilómetros com passageiro e bagagem, numa Honda NT1100 com DCT, o sistema de embraiagem dupla que, apesar de uma filosofia diferente, também transforma a caixa de velocidades convencional numa caixa automática, e a comparação era inevitável.
Efetivamente os sistemas resultam numa utilização semelhante. Apesar de ambos permitirem condução automática e mudar de relação de caixa a qualquer momento, ou optar por engrenar as diversas mudanças manualmente, na Honda o sistema recorre a patilhas no punho esquerdo, enquanto que na BMW se utiliza o pedal convencional.
A Honda também disponibiliza um pedal, como opcional, mas infelizmente nunca tive oportunidade de o testar. No caso da BMW as passagens de caixa ocorrem normalmente, como com qualquer quickshifter e, tal como no sistema DCT, quando se pára, a BMW fica com a primeira velocidade engrenada automaticamente.
Na minha opinião, a vantagem da BMW, independentemente de se tornar mais natural, com as passagens de caixa perfeitamente identificadas, mesmo em modo automático, é que no arranque, sem a manete de embraiagem, a resposta do acelerador é muito mais suave e controlável do que no sistema DCT. Isto apesar de as mudanças entrarem de modo algo violento quando o regime do motor é mais elevado. Nisso o DCT é mais suave.
A caminho da sessão de fotos que ilustra este teste, desfrutei das primeiras curvas na Serra da Arrábida, numa manhã triste, enevoada, para fugir do inevitável trânsito do mês de agosto, sobretudo numa zona de praias. No entanto, aquele nascer do dia, sem trânsito praticamente nenhum, entre o mar escondido na bruma e as montanhas mesmo ali ao lado, o traçado da N10 tornou-se num verdadeiro parque de diversões e emoções.
A RT compensou-me em prazer e adrenalina aquilo que o dia ainda não conseguia proporcionar. O exemplar comportamento da ciclística, a contundente entrega de potência do motor, sobretudo em modo Dynamic Pro (a suspensão é afinada de acordo com o nível de potência), e a confiança proporcionada pelas ajudas eletrónicas, contribuiram para uma experiencia que me vai ficar na memória, seguramente. O excelente desempenho do conjunto só peca pelo som do escape, sobretudo a baixas rotações, quando a sua sonoridade mais parece a de um motor diesel, deixando saudades da maravilhosa sonoridade das versões anteriores.
A sua maior agilidade e a aceleração quase desconcertante, compensam a falta de banda sonora, sem afetar a confiança que proporciona mesmo em pisos degradados ou estradas não asfaltadas. No entanto tornou-se mais desportiva e mais exigente na condução, o seu aspeto foi modernizado mas não numa perspetiva de luxo, antes de praticidade, o que de certa forma contrasta com as versões anteriores. Sinceramente não a acho bonita. Mas como costumo dizer, sentado nela não a vejo!
Dias depois fiz-me à estrada, com a companheira e bagagem, primeiro um pouco por auto-estrada e depois por estradas nacionais, rumo à Beira Interior.
Nos percursos mais movimentados descobri a grande utilidade do Cruise Control Adaptativo, que permite ir confortavelmente atrás dos camiões, e nas filas de trânsito, a desfrutar a paisagem, e deixar a eletrónica fazer o seu trabalho. E com a caixa de velocidades em modo completamente automático, parece quase magia ver o sistema a mudar as relações de caixa, de acordo com a velocidade. E mesmo que o veículo da frente trave e páre, a BMW faz tudo automaticamente, incluindo travar, até chegar a uma velocidade de aproximadamente 15km/h, momento em que a moto fica, não em ponto morto, mas como se estivesse com a manete da embraiagem apertada, com a 1ª relação engrenada, até que se páre, ou que o veículo da frente acelere, ou se enrole o punho direito novamente. O sistema também prevê que, ao desligar o motor, a primeira velocidade fique engrenada, em posição de estacionamento.
O desafogado posto de condução deixa ainda assim muito espaço para o passageiro desfrutar da viagem, com um encosto confortável, que tal como o assento também é aquecido e umas firmes pegas para se agarrar quando o percurso é mais revirado, e satisfeito, luxuosamente até ao fim do mundo!
Eu podia continuar aqui a escrever mais sobre esta BMW R1300RT, porque realmente não me faltam material nem sensações, mas penso que dificilmente, por esta altura, alguém ainda esteja a ler. Por isso, se ainda está por aí é porque está interessado, pelo que o meu conselho é que se dirija a um concessionário da marca e faça um test ride. Garanto-lhe que vai encontrar muitos mais motivos para ficar ainda mais interessado!
Equipamento:
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