Vitor Sousa
Jornalista
OPINIÃO
Os tempos estão a mudar (mais depressa)
Vivemos num mundo em permanente e acelerada mudança. Quem não se adapta, morre. Quer dizer… não morre, morre. Perde a corrida, fica para trás, torna-se irrelevante. É engolido.
andardemoto.pt @ 18-8-2024 12:30:00 - Vitor Sousa
Um processo que corre indiferente a nós, façamos o que fizermos para o impedir. Individual ou colectivamente. Como se o “Grande Timoneiro” ordenasse, determinado, um “full speed ahead”, para chegar com pressa – sempre a pressa – a um destino, todo ele objectivos, folhas de cálculo, taxas e percentagens. Desprovido de qualquer traço de humanidade.
Nessa demanda, alucinados vamos, sem questionar. Siga, pois, a Marinha!
Para a indústria motociclística, como para a sociedade em geral, os desafios que se adivinham não são de pouca monta, nem de leve carrego. Ao instável equilíbrio em que vivemos perante a possibilidade de um conflito mundial e a necessidade imperiosa de travar tiranos (ou tiranetes, que os há, bem próximos), há todo um outro conflito que se desenha na geopolítica comercial. A China vai, ou não vai, tomar conta “disto”? Os Estados Unidos vão voltar ao isolacionismo do início do século XX? E a Europa? A boa, velha Europa, berço de toda civilização ocidental, dos valores da antiga Grécia e do pragmatismo da velha Roma, que deu “mundos ao mundo”, quererá ser que tipo de agente, protagonista, ou ficará a ver, do varandim da sua velha mansão, aristocraticamente, o definhar contínuo de todo o seu poder e influência?
Lá iremos (numa crónica futura).
Outro “drama”, porém, se anuncia. Com a concorrência a aumentar, o mercado inundado por novas marcas que procuram ocupar espaço, os preços a baixar e as margens a recuar, os grandes (e tradicionais) construtores deparam-se com uma perda de quotas - e consequentes lucros – para a qual terão de encontrar uma saída. Podem fazê-lo enveredando por diferentes trilhos, mais ou menos sinuosos, com maior ou menor dificuldade no caminho. Uma forma rápida – ver-se-á se eficaz – que tem estado nas discussões dos “boards” prende-se com o modelo de comercialização e o formato das “redes de concessionários”.
Não custa perceber que a mudança está em curso. Acontecerá, como sempre nestes casos, bem mais cedo na área automóvel do que no, incomparavelmente menor, mundo das duas rodas. Tendencialmente, esse modelo, irá retirar protagonismo (e rendimento) ao retalhista, cujo papel passará a ser o de um elo na ligação física com o público. Este, o cliente final por assim dizer, passará a ser impactado directamente pela comunicação das marcas (não dos concessionários), fará a sua escolha e poderá até agendar um teste nas plataformas online da marca, podendo ver fisicamente o produto eleito num espaço de exposição, não comercial. Terá mesmo a possibilidade de uma entrega personalizada, à porta de casa, num local à sua escolha, ou poderá levantar o seu veículo no espaço de “display” físico dos produtos anteriormente citado. Aos retalhistas, restará o após-venda, serviço absolutamente nuclear já actualmente, para a sua própria sobrevivência.
As marcas assumirão quase por completo o processo: captação de clientes, venda e gestão das bases de dados para a continuidade. O cliente passa a ser da marca e não do concessionário, muito menos do “vendedor”. Por que razão o fabricante tem de dar percentagem aos concessionários? Dividir em fatias, se pode ficar com o bolo por inteiro?
Pode não parecer, mas já não estamos muito longe desse modelo.
É que o tempo, hoje, corre mais depressa daquilo a que nos tínhamos habituado.
É adaptar ou morrer.
Post Scriptum: este artigo assinala o meu regresso activo e regular ao jornalismo depois de uma década de ausência da escrita. Faço-o “nas páginas” do AndarDeMoto, um dos meios de comunicação especializados actuais onde o jornalismo ainda é tratado com seriedade, respeitando as regras e os leitores. Espero estar à altura.
andardemoto.pt @ 18-8-2024 12:30:00 - Vitor Sousa
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