
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
O Tourist Trophy da Ilha de Man 2023
Drama e emoção na mais antiga corrida do mundo
Em 2023 os recordes em vigor da volta ao traçado de 60 Km da Ilha de Man voltaram a tombar... com velocidades superiores a 320 Km/h a serem agora rotina na zona da Montanha. Até quando pode a escalada da tecnologia continuar a compactuar com a tradição da mais antiga corrida do Mundo?
andardemoto.pt @ 30-7-2023 12:30:00 - Paulo Araújo
Quando os primeiros veículos motorizados começaram a circular, eram considerados um perigo tal, que na pioneira Inglaterra, uma lei exigia que uma pessoa precedesse a máquina infernal a pé, agitando uma bandeira vermelha.
A par com esta limitação, uma pequena Ilha perdida entre a Inglaterra e a Irlanda viu a oportunidade de se promover, abrindo as suas estradas para a realização de corridas de motos. Assim nasceu o Tourist Trophy da Ilha de Man.
Disputada desde 1907, a mítica prova celebrou este ano a sua 102ª edição, já descontando os anos da guerra, e mostrou-se desde sempre repleta de fascínio, perigo e drama.
Após a partida, separados por intervalos de 10 segundos, os concorrentes batalham contra o relógio. As corridas são disputadas em 3 ou 4 voltas, das quais apenas uma é uma volta largada, pela necessidade de parar para reabastecer combustível. A sua ordem “na estrada” é frequentemente pouco indicativa do seu lugar na tabela classificativa.
É escusado perguntar o que faz estes homens, e um pequeno punhado de mulheres, arriscarem as suas vidas entre muros e arvoredo, percorrendo a alta velocidade as 217 curvas do longo traçado.
Em 2023, o Espanhol Raul Torras, que participava nesta prova pela 5ª vez, tornou-se a 266ª fatalidade aqui registada desde 1907, numa edição que foi prolífica a bater recordes:
Primeiro foi Michael Dunlop, que averbou mais 4 vitórias e ficou a apenas uma das 26 conquistadas pelo seu tio e modelo Joey Dunlop. O sobrevivente de uma família que vive e morre pelo TT, terá agora de esperar mais um ano para tentar bater o recorde que ainda está atribuído ao seu famoso tio.
Michael Dunlop tem nos genes a dedicação da sua família às corridas e a fatalidade que a tem consumido: Joey Dunlop perdeu a vida em 2000, o pai de Michael, Robert Dunlop em 2008 e o seu próprio irmão William em 2018. Ironicamente, nenhum deles na Ilha de Man, mas em pistas urbanas semelhantes.
Depois foi a vez de Peter Hickman que, com outros 4 triunfos em seu nome, foi o único outro piloto a vencer (sem falar do monopólio da dupla dos irmãos Birchall na categoria de sidecar), tendo Hickman ainda batido o recorde absoluto da volta, que agora está nos alucinantes 219 km/h, tendo pelo caminho batido outros nomes consagrados como Dean Harrison, Josh Brookes, James Hillier, John McGuiness, Connor Cummins, e, claro, Michael Dunlop.Finalmente, nos espetaculares Sidecars, os irmãos Bem e Tom Birchall também bateram o recorde da volta que está agora nos 193 Km/h e venceram ambas as corridas disputadas sobre a dupla Pete Founds /Jevan Walmsley, que também rodou abaixo do anterior recorde.
Controlado por um exército de comissários voluntários, incluindo os famosos “Comissários voadores” que prestam assistência rápida deslocando-se eles próprios em moto a grande velocidade, o TT, disputado entre muros, sebes e pitorescas vivendas, permanece um evento único em que tradição e tecnologia de ponta convivem lado a lado... até quando?
andardemoto.pt @ 30-7-2023 12:30:00 - Paulo Araújo
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