Johan Pereira

Johan Pereira

Motociclista, peregrino da liberdade.

OPINIÃO

De Portugal à Finlândia - 12º e 13º dia

22 e 23 de abril de 2024

No décimo segundo dia da nossa odisseia, despertámos sob um manto de neve espesso, uma paisagem branca e imóvel que parecia querer deter-nos.

andardemoto.pt @ 24-4-2024 17:56:53 - Johan Pereira

A visão das motos cobertas de neve não era apenas um prenúncio dos desafios do dia, mas também um lembrete da impetuosidade da natureza, que nos obrigou a repensar os planos de alcançar o ferry para a Finlândia ainda hoje.

Com a resiliência forjada nos dias anteriores, dirigimo-nos a um posto de combustível, procurando abrigo para as nossas companheiras de duas rodas e um breve refúgio para nós, enquanto esperávamos que a neve desse tréguas.

Perto das 12h ou 13h, o céu começou a clarear, e a neve abrandou o suficiente para nos dar esperança.

Decididos, iniciámos a jornada através das estradas ainda adornadas de branco, enfrentando um cenário que oscilava entre a beleza estonteante e a ameaça constante.


As rotas dos camiões tornaram-se as nossas, e apesar do seu peso e preparação para estas condições adversas, as suas ultrapassagens arriscadas adicionavam uma dose de adrenalina que preferíamos evitar.

O frio cortante testava os limites do nosso equipamento, com as minhas luvas a revelarem-se inadequadas para as atuais condições climatéricas.

As paragens frequentes, a cada 20 ou 40 quilómetros, tornaram-se momentos essenciais para aquecer as mãos e reavivar o ânimo para continuar.

A determinação era a nossa bússola, guiando-nos através de 375 quilómetros sob muita neve, muita chuva e muito frio. Mas conseguimos chegar a Tallinn por volta das 21h, prontos para enfrentar o ponto mais longínquo do “beyond borders”.

Este dia, mais do que qualquer outro, até agora, testou a nossa capacidade de adaptação e resistência, mas também reforçou o laço entre nós e as nossas motos, companheiras incansáveis nesta aventura que desafia os limites do conhecido. Amanhã, o Mar Báltico aguarda-nos, e com ele, o ferry que nos transportará ao próximo capítulo desta epopeia.



Dia 13 – Dia 23 de abril de 2024

No décimo terceiro dia, a natureza voltou a manifestar o seu poder incontestável, despertando-nos com uma tempestade de neve que envolveu Tallinn num manto impenetrável de branco. A esperança de embarcar no ferry para a Finlândia esfumou-se à medida que os flocos de neve continuavam a cair, sem sinais de trégua. A previsão era clara, a neve manter-se-ia, tornando as estradas num labirinto de perigos, com o risco de os veículos derraparem ou mesmo ficarem encalhados. Perante tal cenário, a decisão foi inevitável – ficaríamos mais um dia em Tallinn, rendendo-nos à força da natureza e aos seus imprevistos.

Aproveitando a paragem forçada, dediquei-me a uma tarefa que há muito adiava: a compra de luvas de inverno. As minhas, apropriadas para o verão, revelaram-se ineficazes contra o frio rigoroso da Estónia. Armado com novas luvas, capazes de enfrentar o frio cortante, senti-me renovado e preparado para as próximas etapas da nossa jornada.


Com o dia livre, decidimos explorar a zona histórica de Tallinn, um emaranhado de ruas empedradas, torres medievais e edifícios coloridos que pareciam pertencer a um conto de fadas. A cidade, envolvida pela neve, oferecia-nos uma beleza estonteante, tranquila e misteriosa, que capturava a essência de uma Europa antiga e intemporal. Tallinn revelou-se uma surpresa maravilhosa, destacando-se pela sua segurança e pelo trânsito impecável, tornando-se um dos países mais memoráveis que já visitámos.

Terminámos o dia a assistir a mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, "A batalha esquecida". Enquanto a noite caía sobre Tallinn, o filme fechava mais um capítulo da nossa aventura, deixando-nos com uma sensação de gratidão pela segurança e conforto que encontrámos nesta cidade, mesmo enquanto as tempestades rugiam lá fora.

andardemoto.pt @ 24-4-2024 17:56:53 - Johan Pereira


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