Johan Pereira

Johan Pereira

Motociclista, peregrino da liberdade.

OPINIÃO

De Portugal à Finlândia - 23º e 24º ao 29º Dia

3 e 4 a 9 de maio de 2024

No vigésimo terceiro dia, despertámos sob um céu carregado e cinzento, que nos envolvia num manto de chuva incessante.

andardemoto.pt @ 11-5-2024 16:08:49 - Johan Pereira

3 de maio de 2024

O peso dos contratempos do dia anterior ainda se fazia sentir, mas a nossa determinação em avançar sobrepunha-se a qualquer desânimo. Descartando por completo a ideia de passar por Antuérpia, cujas maravilhas teríamos de deixar para outra ocasião, definimos Dunkerque como o nosso próximo destino no GPS, empenhados em continuar a nossa aventura com a promessa de vivenciar um capítulo verdadeiramente histórico.

Apesar da chuva constante, o nosso entusiasmo não esmorecia à medida que nos aproximávamos de Dunkerque. As gotas de água que se acumulavam nas viseiras pareciam compor uma sinfonia de expectativa e emoção. Para mim, Dunkerque assumia um significado muito além de uma mera paragem na nossa viagem; representava um marco pessoal, um objectivo há muito ansiado. O projeto "Odisseia Fronteiriça", uma aventura abruptamente interrompida por um inesperado acidente na Alemanha, que me obrigou a regressar a Portugal de avião. A narrativa completa desta aventura, repleta de detalhes cativantes, encontra-se no meu blog "www.lincesnomadas.blog".


Ao chegarmos ao nosso destino, o tempo pareceu conceder-nos uma trégua, com a chuva a amainar, quase como se a própria natureza desejasse prestar homenagem à nossa chegada. Estacionámos as motas e caminhámos até à beira da areia, um local que, além de preservar a memória de um passado simultaneamente sombrio e heroico, para mim tinha um significado ainda mais profundo, mas também lembrava a minha própria resiliência e da inabalável vontade de superar obstáculos.

Dunkerque não era apenas um ponto para a nossa viagem, para mim, era um símbolo pessoal da capacidade de transcender não só barreiras físicas, mas também as adversidades que a vida nos apresenta.

Ali, perante o imenso mar, a importância de Dunkerque na minha jornada tornou-se mais evidente do que nunca: um objectivo que, apesar dos desafios, manteve-se firme no meu horizonte, incentivando-me a explorar o mundo para além das fronteiras e a partilhar a minha história.

Após muito tempo de reflexão e admiração, e com o céu a começar a clarear, decidimos que era hora de continuar. O caminho até Paris prometia ser menos tumultuoso, mas igualmente recheado de expectativas. Afinal, cada quilómetro percorrido não era apenas uma distância vencida, mas um passo a mais na construção da nossa própria história, uma narrativa de descobertas, superação e aventura, que eu continuava ansioso por partilhar convosco, aqui em ANDARDEMOTO.

Saímos de Dunkerque por volta das 19h e, após um trânsito extremamente perigoso, que fazia questionar a competência de alguns condutores por terem carta de condução, chegámos a Châtenay-Malabry, a casa dos meus avós, pais do meu pai, por volta da 1h30 da manhã.

A viagem, até lá, foi marcada por uma tensão palpável, com a estrada a testar a nossa paciência e perícia ao volante. No entanto, a chegada à casa dos meus avós trouxe uma sensação de alívio e conforto, um porto seguro após as adversidades enfrentadas.

A aventura continuava, e cada desafio apenas acrescentava mais um capítulo à nossa odisseia.



24º ao 29º Dia – 4 a 9 de maio de 2024

A jornada incompleta que nos levou através de 20 países, cobrindo quase 10000km de estradas, montanhas, vales e cidades, estávamos a apenas dois dias de completar o ciclo de volta a Portugal quando o inesperado aconteceu:

a África Twin foi roubada na véspera da partida.

Este incidente abrupto em Chatenay-Malabry forçou-nos a uma pausa não planeada, mantendo-nos na expectativa durante quatro dias, à espera de notícias que pudessem reverter este súbito revés.

A adrenalina e a liberdade que sentimos ao percorrer diferentes nações, enfrentar desafios climáticos, e descobrir culturas tão diversas, de repente deram lugar a um sentimento de vulnerabilidade e frustração. Cada dia de espera é um misto de esperança e desânimo, um teste à nossa resiliência.

Um sonho de criança que se tornou um objetivo na adolescência, e agora na fase adulta é retirado juntamente com todos os acessórios e equipamentos de alto investimento que demorou muitos e muitos anos a obter é retirado da noite para o dia.

andardemoto.pt @ 11-5-2024 16:08:49 - Johan Pereira


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