
Pedro Pereira
Só ando de moto em 2 locais: na estrada e fora dela!
OPINIÃO
A insustentável beleza das Motas “Todo-o-Terreno”
A aproximação ao título da obra prima de Milan Kundera (1984) e depois adaptada ao cinema por Philip Kaufman não é inocente.
As motas, no geral e ainda mais aquelas que têm capacidades de nos fazer circular fora de estrada, têm um encanto muito especial, quase mágico.
andardemoto.pt @ 11-3-2019 12:56:02 - Pedro Pereira
Aparte a magia de desbravar caminhos, de superar obstáculos e chegar a locais que nos parecem quase inacessíveis é um sentimento de pura loucura, quase erótico, um pouco na lógica do livro e depois do filme…
Sair com uma mota do betume e “arriscar-se” em pisos mais irregulares, mais traiçoeiros e diversificados onde existem pedras, cascalho, regos, raízes, areia, lama, gravilha, saltos ou cursos de água pode parecer um pouco também ato de loucura, mas é muito mais que isso!
O “fora de estrada” é diferente de todas as outras formas de andar de mota. Não se trata de ser melhor ou de ser pior, é apenas diferente! Seja num circuito com saltos ou obstáculos que nos parecem intransponíveis, em verdadeiros “carreiros de cabras” ou simplesmente num estradão com um piso invejável… há sempre algo de novo à nossa espera! Cada voltinha é um desafio e muitos sorrisos, mesmo com algumas mazelas à mistura, quedas incluídas, fazem parte do menu!
Agora que já agucei um pouco a curiosidade a quem nunca experimentou e trago boas sensações a quem dá as suas voltinhas também longe do alcatrão, fica no ar a eterna questão: se quero experimentar sair do asfalto… que mota escolher?
A escolha de uma mota para poder fazer algum “fora de estrada”
Ainda que correndo o risco de ser algo “redutor”, podemos agrupar as motas em famílias: umas mais vocacionadas para cidade e pequenas deslocações, tipo scooters e baixas cilindradas, outras mais na perspetiva de circuito, como as R’s, algumas mais adaptadas para viajar com conforto e todos “trabecos” atrás, como as grandes turísticas, outras com formato mais trail que permitem viajar, andar no asfalto, mas também sair dele, outras ainda que são mesmo vocacionadas para o fora de estrado, como as motas de enduro e assim sucessivamente…
Resumindo, a escolha da mota é muito importante, mas o gosto pessoal, os nossos interesses e motivações, bem como a nossa carteira, é que devem ditar as regras!
Se o que pretendo é apenas percorrer alguns estradões, praticamente qualquer mota serve, desde que haja um mínimo de cuidado da minha parte, para não comprometer a segurança.
Se quero fazer algo mais radical, tipo trilhos complicados (também conhecidos por trialeiras) aí já faz todo o sentido ter uma mota de enduro com caraterísticas para esse efeito.
Se quero a mota apenas para ir “fazer uns saltos” numa pista de motocross então a mota a adquirir deve ser específica para esse fim e não será adequada para depois, por exemplo, ir trabalhar no dia a dia ou fazer um passeio pela Europa!
Se quiser uma mota que sirva “para tudo”, tipo canivete suíço, corro o risco de não existir nenhuma! Mesmo as trails de média ou grande cilindrada, que permitem longas viagens, mas também belas aventuras fora da estrada têm limitações, nomeadamente em pisos de areia solta ou percursos mais técnicos em que o peso e a potência acabam por complicar, e de que maneira, aumentando o desafio e adrenalina, mas também o risco.
Além disso, não se pode ignorar o elemento essencial chamado pneu! Mesmo um bom pneu misto (que permite uso em estrada e fora dela) acaba por ser sempre uma solução de compromisso, correndo-se o risco de não ser realmente bom em nenhuma das utilizações, mas apenas razoável em ambas, o que já é bom, mas havemos de falar nisso noutra crónica!
Muitas vezes, há quem faça uma opção mais radical: ter dois conjuntos de rodas ou, melhor ainda, duas motas! Uma mais “civilizada” que serve para ir trabalhar, para os passeios com os amigo, para pendura e pouco ou nada fora de asfalto e a outra que esteja nos antípodas: pneus de cardado agressivo (por vezes nem sequer autorizados a circular em estrada), apenas lugar para o condutor e com banco minimalista, suspensões a condizer, mas pelo menos há a certeza de que o peso não é nosso inimigo e a potência é a suficiente para não causar demasiados sustos, nem nos deixar mal e que nas quase inevitáveis quedas os danos deverão ser mínimos…
Os 10 Mandamentos do Fora de Estrada
A nossa matriz cultural tem uma forte influência judaico-cristã e muitos de nós, possivelmente, até andaram na catequese e tudo! Para esses e todos/as os/as demais, deixo um conjunto de princípios básicos, alguns comuns mesmo generalistas, para a prática do “fora de estrada”, seja com que mota for e tendo sempre presente a máxima “divertir-se em segurança”.
I. Amar-se a Si próprio, acima de tudo. Este mandamento é fundamental e abarca conhecer os nossos limites e proceder de forma responsável, usar equipamento de proteção adequado, hidratar-se (nada de bebidas alcoólicas, vá lá, no máximo uma ou duas cervejinhas), fazer sempre um aquecimento prévio, não ir andar sozinho…
II. Não correr riscos em vão. Se em competição já se passam um bocado dos limites do razoável, o mesmo não deve ser quando é apenas por divertimento, mesmo que seja em saudáveis picardias com os restantes elementos do grupo. Até podemos querer a nossa superação, mas não a nossa perdição, nem a dos outros!
III. Não guardar domingos e feriados. É fácil perceber porquê. São, para muitos de nós, os melhores dias para estas práticas, mas convém haver bom senso, até porque existem, regra geral, outro tipo de responsabilidades, nomeadamente de natureza familiar, que não convém esquecer… também nesses dias;
IV. Honrar todos os outros que nos rodeiam. E aqui estamos a referir-nos aos Colegas, a outras pessoas que andem por esses montes e vales (pessoal das caminhadas, do btt, agricultores, pastores, caçadores…), às autoridades (das quais não devemos ter medo), às áreas protegidas, mas também à própria natureza, aos animais, às aves…
V. Não matar nem destruir nada, na medida do possível. Esta nossa atividade é agressiva para o ambiente e andamos no limite da (i)legalidade. Mesmo sendo cuidadosos, há sempre ruído, degradação nos solos, poluição na água, vegetação que é atingida. Tentemos mitigar sempre a nossa presença, até para evitar o que acontece noutros países em que fundamentalismos levam a que andar fora de estrada é quase pecado ou crime;
VI. Não temos que ser castos. Aqui castidade deve ser entendida no sentido lato, ou seja, não há problema nenhum em experimentar a mota do Colega, as suas botas, luvas, colar cervical ou o colete de proteção, desde que ele autorize e seja na lógica da responsabilidade, isto é, “se partes… pagas”!
VII. Não furtar, nem danificar o alheio. Aqui está uma regra de vida. Não apenas de fora de estrada. Uma coisa é parar e comer um figo de uma árvore alheia e a outra é uma “limpeza geral” à árvore! Respeitar o alheio passa também, por exemplo, por não arrombar cancelas para passar ou tratar de as fechar após a nossa passagem, parar para não assustar o gado ou nunca andar em campos de cultivo;
VIII. Não levantar falsos testemunhos. Não vem mal ao mundo eu achar que sou o mais rápido dos meus colegas (mesmo sendo falso), mas ter um comportamento honesto sincero e de entreajuda desinteressada deve ser uma marca do nosso comportamento em todo o momento e lugar, motas incluídas, seja ou não no “monte”;
IX. Não cobiçar a mota do próximo. Aqui afasto-me um pouco da versão original porque até pode ser saudável eu pensar que me vou esforçar para ter uma mota melhor, “preparar” as suspensões ou adquirir umas proteções mais robustas, mas sempre como forma de me motivar e não de invejar o que é alheio;
X. Não desejar o que não nos pertence. Aqui numa perspetiva mais alargada que no Mandamento anterior. Posso sempre cobiçar o “kit de unhas” do meu colega de voltinhas de fim de semana que tem mais técnica que eu porque pratica mais, faz exercício regular, porque não fuma… e pensar em seguir-lhe o exemplo! Talvez até que os resultados surjam!
Estes 10 Mandamentos, para os mais preguiçosos, podem resumir-se em dois:
1. Amar-se e proteger-se a Si próprio acima de tudo;
2. Amar e proteger o Próximo (que são todos e tudo o que nos rodeia) como a Nós mesmos!
Fico por aqui. Não quero que se fartem já da minha Cartilha. Para a próxima podemos falar, por exemplo, de pneus, do abc da manutenção das motas fora de estrada ou de algumas dicas úteis para praticantes, aspirantes ou simplesmente curiosos…
andardemoto.pt @ 11-3-2019 12:56:02 - Pedro Pereira
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