Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Ligar o complicómetro
É engraçado como, com o passar do tempo, as coisas se
complicam, quando se deviam simplificar.
andardemoto.pt @ 27-5-2024 09:17:17 - Paulo Araújo
Quando comecei a andar de moto, estávamos nos anos setenta. Não havia navegadores, nem GPS, nem telemóveis e as motos eram todas “nakeds”. Isso quer dizer que para viajar, primeiro tínhamos de adaptar a moto… Um vidro ou, para os mais radicais ou endinheirados, uma carenagem, malas, um saco de depósito e uma boa provisão de elásticos para acabar de prender a restante bagagem que inevitavelmente não cabia nos anteriores.
Por vezes, maneira de melhorar travões, suspensão e iluminação faziam da cada moto um projeto pessoal, único e ao gosto do proprietário…aliás, é daí que vem o termo “custom”.
Tínhamos de fazer bem as contas às divisas de que iríamos precisar ao atravessar vários países, pois nem em França aceitavam Libras, nem em Espanha Escudos, e por aí fora… e nem os cartões eram internacionais! Mais do que uma vez tive de recorrer ao ardil de encher primeiro o depósito e confessar depois que não tinha Francos, deixando um Francês irritado a consultar o jornal do dia para saber o câmbio da libra e aceitar a medo o pagamento…
Uma boa revisão de todos os elementos, pneus novos e provavelmente uma corrente recente e bem lubrificada, a menos que a moto fosse uma BMW… Se a viagem fosse através da Europa por uns milhares de Km, levar um pneu traseiro ou comprar um pelo caminho era habitual, pois 4 ou 5 mil Km a boas velocidades davam conta do rasto e as multas eram muito mais que o eventual custo do pneu… Lembro-me de ter de convencer os Gendarmes que o pneu de trás liso teria de acabar a viagem porque estávamos na Normandia e o barco era logo ali…
Muitas vezes, a noite era passada onde o cansaço ditava, num saco-cama à beira da estrada a ouvir os estalidos do motor a arrefecer ao nosso lado… já que também não havia Booking nem Airbnb nem marcações de última hora por telemóvel.
Agora, se tivermos a moto certa, já vem com vidro e malas, além de faróis, ajudas eletrónicas, banco e suspensão que se ajusta automaticamente ao tamanho e peso do pendura e aos nossos gostos ou estilo de condução e, claro, um irritante navegador que nos vai mandando para onde não queremos ir e ao mínimo desvio baralha tudo enquanto refaz os cálculos…visto que, fiados no navegador, provavelmente mal olhámos para a rota a empreender antes de sair e só temos uma vaga ideia de onde devíamos estar a rumar.
Agora, tudo se simplificou… O Euro é aceite na maior parte dos países que poderíamos visitar na periferia, e qualquer pneu dura pelo menos 8.000 Km, até porque o tempo de atravessar uma Europa sem auto-estradas, mas também sem radares pela maior parte, a mais de 170 Km/h, já lá vai… Agora, podemos escapar pelos 130-140, mas vai depender do país e da disposição do polícia no dia.
E no entanto, complicou-se… quando devia ser quase pegar no cartão de crédito, enfiar umas mudas de roupa nas malas e zarpar, há gente que complica, que vem para os fóruns perguntar que pneu é o melhor ou que óleo de caixa colocar na transmissão e quantos Km vai durar… Se é seguro atravessar a Nasdrovia de cima sem escolta policial ou se na Parvónia Setentrional recebem bem os motards…
Epá, vivam um bocadinho! Parte do gozo é ir à descoberta, deixando, não ao acaso, mas à vontade do momento, os detalhes mais finos da rota e das paragens… só assim, vamos encontrar gente extraordinária, sítios inesquecíveis e recordações que perdurarão muito para lá de quando já não tivermos energia nem saúde para mais!
andardemoto.pt @ 27-5-2024 09:17:17 - Paulo Araújo
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