
Gracinda Ramos
Professora de artes, pintora e motociclista de todos os dias.
OPINIÃO
Passeando pela Grécia/Balcãs – Subindo a Grécia até Drama
Hoje eu subiria mais um pouco o país até uma cidade com um nome sugestivo.
andardemoto.pt @ 27-4-2024 17:30:00 - Gracinda Ramos
O caminho não era muito longo, por isso não havia muita coisa para fazer naquele dia e tinha todo o tempo do mundo para percorrer os caminhos de Meteora e depois subir até Drama.
Mas, claro que não podia ir embora sem passear uma vez mais pelo caminho dos belos mosteiros, por isso lá fui subindo na direção dos “monstros” de pedra.
Os enormes rochedos eram realmente monstros negros em contraluz. O tempo estava límpido, depois da chuvada de ontem, e isso tornava a atmosfera perfeita ao amanhecer.
Meteora em grego significa “suspenso no ar” e aquilo tudo tem mesmo ar de estar lá pendurado em cima.
Desta vez fiz alguns desenhos do aspeto imponente dos enormes pedregulhos, mas não tenho a certeza de ter conseguido realmente mostrar um pouco do que sentia ao olhar aquilo tudo…
Mas é assim, uma memória dos momentos que parei e olhei mais demoradamente para aquela paisagem apaixonante.
Reza a lenda que a construção dos mosteiros remonta ao século XI. Os monges eremitas queriam defender-se dos invasores otomanos e foram construindo os seus espaços religiosos no topo dos grandes rochedos para dificultar o acesso.
O curioso é que apenas no início do século XX se construíram escadas para chegar lá acima, já que inicialmente tudo se processava com cordas e roldanas que içavam pessoas e materiais em redes e cestos.
Hoje, olhando para eles, que já foram mais de 20, dá que pensar a trabalheira que deu levar lá para cima todos os materiais para construir tudo aquilo!
E a bela estrada que nos leva até à entrada de cada mosteiro é linda e em muito bom estado. Até dá para fotografar a partir da moto, em redor.
Eu não sou muito de selfies, mas não resisti em registar o meu próprio rosto todo marcado com o capacete desenhado pelo sol. Linda de morrer!
Isto de não conseguir abrir e fechar o capacete, por causa da dor e da falta de força na mão esquerda, fez-me andar muito frequentemente de capacete aberto e o resultado estava na minha cara.
Há sítios onde passo que ficam na minha memória de uma forma tão gratificante que quando lá volto é como se fosse rever um amigo.
E a despedida é aquele momento onde apetece levar cada recanto na memória, guardar todos os sítios na mesma caixinha para mais tarde recordar… E aquele ponto sempre retratará todo o local para mim. Não fico eu na foto, mas fica uma sombra de mim.
O Mosteiro Agia Triada (da Santíssima Trindade) foi o último no meu horizonte e podia vê-lo pelo retrovisor da minha moto.
Ao longe podia ver a envolvência de Meteora.
É curioso como o aglomerado de grandes rochedos fica isolado no meio de uma paisagem completamente lisa, como se a natureza se tivesse enervado naquele sítio e se engelhado em rochedos impressionantes.
Encontrei um lento viajante no meio da estrada. Já vou perdendo a conta de quantos cágados encontrei no meio do meu caminho!
Fechou-se todo em casa quando me viu. Imagino o estrago que faria se eu passasse por cima dele com a moto. Certamente esbardalhar-me-ia e ele continuaria o seu caminho.
Peguei-lhe com cuidado, era bem pesado o menino, e levei-o para a berma da estrada.
Tinha planos de explorar um pouco o Monte Olimpo, por isso até me entusiasmei quando encontrei a placa.
Estava encimado por enormes nuvens, muito baixas. O tempo não devia estar nada bom lá em cima. Parece que quando ali passo o céu está sempre a cair em cima dele!
Com o meu pulso a doer e a mão sem força, o que me reduzia muito a destreza, definitivamente eu não me meteria a explorar caminhos ruins. Limitei-me a apreciá-lo de longe e seguir, contornando o mau tempo a ver se conseguia passar sem ter de vestir o fato de chuva.
As estradas não eram as mais interessantes e encantadoras, nem os caminhos eram particularmente panorâmicos. É frequente, pela Grécia, encontrar estradas completamente banais, com paisagens nada de especial e que não vão ficar na memória depois de uma viagem. Quando é assim, limito-me a parar em estações de serviço para comer e beber, já que procurar recantos encantadores para fazer um picnic é mais trabalhoso e menos interessante.
Eu não como gelados nem bolos, mas gosto de provar cervejas e salgadinhos, e os gregos têm coisas muito interessantes nessas especialidades para degustarmos.
É nesses momentos que percebo que o meu dia vai ser feito de comer e conduzir, porque não há muito mais que fazer. Ok, há sempre uma curvinha ou outra para animar a condução!
E um lugarejo ou outro para dar uma olhada em redor. Mas só uma olhada pois não tem muito mais que a bela igreja para encher os olhos, e, mesmo essa, estava fechada. Pieria e a sua Igreja dedicada a Agios Dimitrios.
Porque será que quando tenho pouco para ver tenho sempre muito mais fome? E pimba, sempre que tenho de parar para pôr gasolina, lá vou eu dar uma olhada na tasca anexa.
Não encontrei nem muitos viajantes de moto nem mesmo muitas motos de residentes. O que mais vi foi motocas pequenas de locais. Mas ali estava uma belíssima AfricaTwin para fazer companhia à minha Penélope.
Os donos da AT eram um casal, mas não se mostraram muito conversadores e eu não faço questão de prender as pessoas muito tempo com conversas que não interessam para nada, por isso apenas cumprimentei e fiquei no meu canto a apreciar o meu sumo e as motos na minha frente. Antipáticos!…
Há momentos numa viagem, que uma simples placa me pode fascinar, quando indica vários países e capitais…
Não sei se outras pessoas processam isso, mas vivemos num país onde as placas apenas podem indicar um único país, por muito que nós andemos para norte ou para sul! E eu estava tão perto da Turquia, onde tinha planeado ir antes de destruir o meu pulso… ainda bem que as placas ainda não a indicavam, ou teria sido fortemente tentada a fugir do meu caminho para lá.
Mas ali há Bulgária por todo o lado, embora a Grécia ainda faça fronteira com a Macedónia do Norte, a Albânia e a Turquia.
Não me era permitido realizar mais, onde estava já era o sonho possível realizado, mais do que isso seria demais… e cheguei a Drama, sem mais dramas!
O entardecer estava animado no centro da cidade, embora eu tenha sido recebida com obras profundas nas ruínhas até ao alojamento. Eu sei, para se ter estradas boas é preciso tratar-se da manutenção e esburacar de vez em quando para se renovar e refazer. Mas confesso que stressei, com tanto pula pula de buraco em buraco.
O meu alojamento era bem no centro da cidade e por isso era fácil explorar a pé. Assim, antes que caísse para o lado a dormir, fui explorar em redor e procurar onde comer.
Encontrei uma pizaria que fazia umas pisas muito apetitosas, lá dentro apenas trabalhavam 4 homem de meia-idade, o que para mim foi meio surpreendente, talvez por estar habituada a ver apenas jovens trabalhar em sítios destes.
Disseram-me que só vendiam pizas inteiras e que davam para duas pessoas. Não faz mal, eu consigo comer por duas pessoas, venha daí essa piza! E sim, comi-a quase toda. Sobrou tão pouca quem nem valia a pena levá-la. Quem não é para comer não é para conduzir!
Eu não sou da noite, no sentido de bares e discotecas, mas gosto tanto de passear por uma cidade à noite e ver com o que é que ela se parece quando as pessoas vão dormir.
Bem, vamos lá para casa dormir, para esquecer o quão perto da Turquia estou sem poder lá pôr o pé…
Amanhã sigo para a Bulgária e esqueço de vez o que deixo para trás, pois tenho coisas novas para descobrir por lá!
andardemoto.pt @ 27-4-2024 17:30:00 - Gracinda Ramos
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