
Márcia Monteiro
Marketeer, “Mulher do Norte” e motociclista em estrada e fora dela (Off Road).
OPINIÃO
O Lés a Lés OffRoad não é para “meninos”
Uma das frases que eu mais ouvi, quando partilhava com alguns colegas que iria participar na 7.ª Edição do Portugal de Lés a Lés OffRoad, era “isso é para meninos”. Claramente este é aquele tipo de comentário feito por quem nunca participou em nenhuma iniciativa deste género porque, embora grande parte dos desafios seja ultrapassada pela maioria dos participantes, não deixa de ser exigente especialmente pela extensão do trajeto em si. Quem nunca conduziu 8h seguidas (ou mais) em todo o terreno durante 3 dias, claramente vai achar que isto “é para meninos”.
andardemoto.pt @ 10-11-2022 09:39:00 - Márcia Monteiro
Os cerca de 500 participantes foram recebidos de forma calorosa em Mirandela, cidade onde se iria iniciar a 1.ª etapa da 7.ª Edição do Portugal de Lés a Lés OffRoad. Acordei de madrugada, ainda de noite, e por volta das 7h da manhã já estava equipada e pronta para o arranque a solo em mais uma aventura por este Portugal fora. Pela experiência dos anos anteriores, sabia que a 1.ª etapa seria mais exigente. Mas confesso que não imaginava que ia ser tão exigente assim. Foram centenas de km de subidas e descidas íngremes com pedras soltas, valas e algum pó. O serpenteado constante dos vinhedos do Douro dificultou a vida a todos os participantes com socalcos de verdadeiro sofrimento e muito suor à mistura. Se para mim, com uma moto mais pequena, por vezes era difícil curvar em subidas tão estreitas e íngremes, nem quero imaginar como foi para os aventureiros das motos maiores. Com o aproximar das paisagens beirãs, julguei que o percurso ficaria mais acessível. Onde é que eu tinha a cabeça? As dificuldades estavam longe de terminar e seguiram-se autênticos trilhos enduristas, muito exigentes e desafiantes.
No segundo dia, à semelhança do dia anterior, arranquei ao amanhecer em Tábua. Bastaram aparecer os primeiros raios de sol para perceber que as dificuldades iriam continuar. A nuvem de pó era visível a vários quilómetros de distância. Logo após a passagem junto ao Rio Tejo, os estradões não faziam prever as inúmeras armadilhas, muita pedra solta e valas profundas, que exigiam atenção e cuidado. Naquele momento o meu corpo começou a ceder, pois ainda não tinha recuperado do dia anterior... a parte final ficou marcada pela passagem pelo Parque Natural da Serra de S. Mamede, igualmente desafiante. Assim, neste dia, o percurso revelou-se bastante técnico. Finalmente, cheguei a Arronches.
No terceiro dia voltei a madrugar e apesar das dores musculares e das feridas provocadas pela fricção dos equipamentos, já só pensava em chegar ao Algarve. No entanto, se eu achava que esta última etapa seria mais tranquila, voltei a enganar-me. Esta foi a etapa mais longa, com 400 km, alternando entre o todo-o-terreno e o asfalto. Esta autêntica caravana de motos todo o terreno percorreu a zona do Alentejo, lado a lado com Espanha e se eu achava que o Alentejo seria todo ele rolante... já conseguem imaginar, não já? Enganei-me outra vez. Pedra, muita pedra que originou dezenas de furos nas motos. Ainda bem que eu já só ando com mousses, mas os meus braços sofreram bastante. Esta terceira etapa não foi tão exigente como as duas anteriores, mas os quilómetros em asfalto foram um autêntico massacre para as motos mais pequenas. Mas, como tudo na vida, faz parte e finalmente cheguei a Vila Real de Santo António.
Acredito que todos os aventureiros que chegaram ao Algarve sentiram o mesmo que eu: dever cumprido. O Lés a Lés OffRoad já há muito tempo que deixou de ser para “meninos”... na verdade, ele nunca chegou a ser para “meninos”. Ele é para quem quer explorar o nosso incrível Portugal, para quem quer rever amigos, para quem quer explorar lugares fenomenais, para quem se quer conectar com a natureza, para quem não quer competir, para quem quer ajudar, para quem quer ser desafiado, para quem quer testar os seus próprios limites e acima de tudo para quem quer viver uma verdadeira experiência de superação pessoal.
Enquanto participante das 7 edições, posso afirmar convictamente que esta foi a edição mais exigente de todas, mas ao mesmo tempo, a mais completa e por isso aproveito para felicitar todos os membros da organização (FMP) que estiveram ao mais alto nível. Foram prestáveis e mostraram-se sempre disponíveis para ajudar em tudo o que fosse necessário. Dada a exigência desta edição, não poderia deixar de felicitar o excelente trabalho da equipa de osteopatas, assim como de todas as entidades patrocinadoras e concelhos que nos acolheram e tão bem nos receberam. Obrigado. Muito obrigado.
PS: Fotografias da autoria de Paulo Ministro.
Outubro 2022
andardemoto.pt @ 10-11-2022 09:39:00 - Márcia Monteiro
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