
Susana Esteves
Jornalista e motociclista
OPINIÃO
Vendo, não vendo. Vendo, não vendo
Atualmente a vida não está particularmente fácil para ninguém. Eu gostava muito de pertencer àquela classe de pessoas que nasceram com o “** virado para a lua”, mas não, o meu aparentemente nasceu virado exatamente para o lado oposto.
andardemoto.pt @ 2-11-2020 18:12:16 - Susana Esteves
Eu até sou uma pessoa positiva, que acredita que a certa altura o jogo vira, as coisas boas acontecem, a sorte muda, etc, etc. Mas a minha conta bancária parece não estar alinhada com este meu mindset, e está a exigir um sacrifício. Podia ser uma cabra, ou um galo como manda a tradição dos malditos, mas não, vai ter mesmo de ser uma das motos.
Problema? Não consigo. Estou numa verdadeira batalha interior há meses, o coração vai à frente no marcador, mas a cabeça quando entra a “pés juntos” desequilibra tudo.
Juro que estou a tentar. Já tirei fotos, escrevi o texto do anúncio e entrei várias vezes na aplicação. Mas consigo carregar naquele botãozinho final que coloca a moto na forca? Não!
Nunca tive um ataque de pânico, nem uma crise de ansiedade, mas a verdade é que fico com um peso no peito, com falta de ar e com, vontade de chorar quando penso nisso. É só uma crise de parvoíce?
Isto é uma pieguice pegada? É. Sou a primeira a admitir e esta situação me deixa inclusive irritada porque não sou apegada a bens materiais… à exceção desta moto.
-“Então vende a outra!” Infelizmente a escolha é óbvia. Vendo a que gasta 2 litros, que não paga IUC, que quase não precisa de revisões e que vale meia dúzia de euros no mercado, ou a outra?
O problema é que não é só uma moto. É “A” moto. É aquela que tem história, que tem a capacidade de me tirar dos maus momentos, é a das conversas importantes, dos momentos a sós e dos segredos. É a da adrenalina, das boas experiências, é aquela que sempre desejei, que procurei, que desisti e que me encontrou, nem sei bem como. É aquela que é perfeita para mim, que me dá um prazer indescritível conduzir.
E coragem para carregar no botão “Publicar anúncio”? E coragem para a ver sair nas mãos de outro?
Obviamente que isto é uma estupidez. Esta relação desequilibrada parece anedota de rede social, já as minhas contas para pagar são um drama da vida real. A verdade é que ainda hoje abri a app, revi as fotos, voltei a escrever o valor e olhei para o botão.
Vendo, não vendo.
Vendo. Não vendo.
Amanhã tento outra vez…
Boas curvas
andardemoto.pt @ 2-11-2020 18:12:16 - Susana Esteves
Outros artigos de Susana Esteves:
Anda meio mundo a tentar lixar a vida a outro meio
Estacionamento para motociclos: um presente querido ou envenenado?
5 presentes para pedir ao Pai Natal
Motociclista moderno ou purista?
O belo som do alcatrão a rasgar a pele
E se pudéssemos calar toda a gente com a desculpa perfeita?
E se o Pai Natal largasse o trenó e fosse de moto?
Velocidade máxima e chinelo no pé
Façam o que eu digo, não o que eu faço
Fora da estrada e da minha zona de conforto
Não vás às cegas que podes desiludir-te
Os motociclistas e a matemática
Quer a moto? Não vendo a mulheres!
Diz-me o que conduzes, dir-te-ei quem és
Perco a cabeça ou arrisco perder a cabeça?
Os estafetas das empresas de entregas são ninjas?
Partida. Largada. Tudo a tirar o pó dos punhos!
Equipamentos que não precisamos, mas que depois não podemos viver sem eles
Quer uma moto? Tire senha e aguarde a vez
Quem arrisca… às vezes petisca o que não quer
Mulheres motociclistas nas compras? Não há opções, não há vícios.
Vendo, não vendo. Vendo, não vendo
Podia ter sido o dia perfeito… não fosse o raio da porca
Arrisco a multa ou arrisco o encosto?
A paixão pelas motos passa com a idade?
Motoclubes: esses antros de má vida
Cuidado!! Motociclos aumentam risco de sociabilidade
Problemas na mota? Eis o manual de sobrevivência!
O vírus do motociclista virgem
Oitos: o bicho mau das aulas de condução
Proibição de andar de mota: como sobreviver à ressaca
Filho de peixe não sabe nadar porque eu não quero!
Viagens longas de 125: há rabo que aguente?
Andar de mota: o lado menos sexy da coisa
Afinal somos grandes (mas só na altura de pagar)
Férias em duas rodas - Não negue à partida uma experiência que desconhece
Férias em duas rodas - Não negue à partida uma experiência que desconhece
Falta-nos um “bocadinho assim”…
Clique aqui para ver mais sobre: Opiniões