Susana Esteves

Susana Esteves

Jornalista e motociclista

OPINIÃO

Não vás às cegas que podes desiludir-te

Sabem aquela figura pública, vulgo “celebridade”, que achamos fantástica, que dávamos tudo para conhecer e que até entra nos nossos sonhos e fantasias, mas que depois quando um dia conhecemos é uma desilusão e perde rapidamente todo o encanto?

andardemoto.pt @ 20-2-2022 09:30:00 - Susana Esteves

Pois com as motos acontece o mesmo. E até dói mais. Porque a probabilidade de um encontro com a celebridade das nossas fantasias é menor que a probabilidade de um encontro com a moto das nossas fantasias – expectativas mais baixas = menor desilusão.

Quando a oportunidade de conhecermos a nossa paixão surge, a emoção que sentimos só consegue ser ultrapassada pela visão de nos podermos sentar em cima dela e dar umas voltas (na moto, não na celebridade).

Vamos acabar com a analogia para isto não ficar estranho, e partir já para a moral da história:

 - Nunca compres a moto com que sempre sonhaste sem a experimentares, porque ela pode não ser bem aquilo que esperavas. E a sensação de desânimo é total.

Foi o que me aconteceu recentemente. Estive quase a abrir os cordões à bolsa de forma cega por uma paixão que morreu em poucos minutos de experiência. Tive a sorte de a poder experimentar – pura sorte – senão ter-me-ia arrependido.

Nunca comprei sem experimentar. Defendo isto até à exaustão. Mas a verdade é que atualmente não é fácil conseguir o test drive aconselhado, principalmente se estivermos a falar de modelos menos comerciais. Os stands não têm “stock”, nem arriscam empatar investimento em motos que são menos procuradas. 

- Se a quiser mandamos vir. 

- E se eu não gostar? Azar!

Muitas vezes somos inclusive enganados por experiências anteriores com motos parecidas de outras marcas, ou de versões mais antigas. É um engano. A evolução da eletrónica, dos motores, dos materiais ou mesmo do design fazem toda a diferença em estrada. 

Se atualmente para comprarmos um modelo bastante comum já esperamos semanas, e temos de escolher a cor por catálogo porque nem ao vivo ela existe, como fazemos com um modelo mais raro?

Podemos perguntar a um amigo, mas a opinião vai estar sempre condicionada pelo seu gosto e experiência. Podemos comprar “à confiança”, mas arriscamos ficar mais pobres e de coração partido. Podemos encontrar alguém muito simpático que nos deixa dar umas voltas – e isso sim, é pura sorte. 

Mas num mundo perfeito, o que deveria acontecer era termos sempre à disposição o modelo que queremos para test drive. Se não compramos sapatos sem os experimentarmos, porque temos de comprar uma moto? Porque implica um investimento maior para a marca? Claro! Mas implica também um risco de investimento enorme para o consumidor. 

É tudo uma questão de serviço ao cliente, de experiência de compra, de fidelização de marca. Coisas que as empresas só aprendem quando os indicadores comerciais descem e elas precisam de se esforçar, ou quando os planos de marketing apostam no volume de vendas.  


Resumindo: uma moto linda, daquelas que nos enche as medidas, não é necessariamente uma moto fantástica. A experiência de condução é, na verdade, a parte mais importante deste relacionamento, e para quem é verdadeiramente apaixonado pelas duas rodas, nada supera isto. 


Boas curvas!

Dezembro 2021

andardemoto.pt @ 20-2-2022 09:30:00 - Susana Esteves

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