Susana Esteves
Jornalista e motociclista
OPINIÃO
Amor sem idade
Há algum tempo tive a sorte de poder acompanhar um grupo de motociclistas que partilha um amor pelas duas rodas muito especial. Ali o importante não são os cavalos, a tecnologia de ponta, a marca ou a imponência da moto.
andardemoto.pt @ 16-11-2020 19:56:55 - Susana Esteves
O grupo é composto por motas vintage. Aliás, é uma montra fantástica de grandes máquinas do passado que não deixam ninguém indiferente. Famel Zundapp, Casal Boss, Sachs V5, Macal Vanguard e até uma Kawasaki de 1972 – de vários modelos e cores - são apenas alguns exemplos destas verdadeiras peças de museu que ainda circulam com toda a sua elegância pela estrada.
A velocidade é pouca, mas o charme é muito. Os motores, o “ronco”, toda a mecânica e a estética são testemunhos perfeitos da evolução tecnológica dos últimos anos. Conduzir estes exemplares é magnífico. O prazer não está na velocidade, na potência do arranque ou no conforto e segurança nas curvas. Estes clássicos não oferecem nada disto, mas garantem uma experiência inesquecível… pelo menos para quem só está habituada a meter as mãozinhas nas motos mais recentes.
A primeira aula de condução que tive foi numa 125 que parecia ter sido retirada da ala extra vintage do museu das motas. Pensei mesmo que era uma espécie de praxe às novatas. – “A sério que ele acha que vou andar naquilo? A minha bicicleta de montanha tem pneus mais grossos.”
Mas andei. Andei e passei vergonha.
- “Pode ligar a mota”, dizia o instrutor.
- “Onde?” (E passou muito tempo antes de dar o braço a torcer e fazer a pergunta)
- “É de kick”, explicou, já a pensar - olha a croma que me calhou.
- “Hummm. De quê? Como assim.”
Neste grupo há muitas, e portanto já não passei vergonha. Aliás, a conversa não esteve centrada no desempenho e no conforto, mas nos impressionantes trabalhos de restauro e nas dificuldades que estes motociclistas enfrentam sempre que necessitam de uma peça. Apesar de “aqui a chata” estar sempre a fazer perguntas, o que o grupo queria mesmo era comer, beber e conviver nos vários pit stops que fazem parte do trajeto habitual.
Bónus: com aquele capacete nem precisei tirar os brincos, entalar o cabelo e ligar o intercomunicador para me fazer ouvir. Maravilhoso! Também acabei por dispensar o casaco grosso. Bastaram alguns segundos para traduzir aqueles olhares em palavras: Mas a croma acha que vem conduzir o quê? Uma RR a 200 km/h?
O ambiente era excelente e muito divertido. Saí de lá muito bem-disposta, com vontade de repetir (Adorei o convite. Podem repetir ). O amor pelas duas rodas é o mesmo, se calhar com uns adjetivos e objetivos diferentes, mas na sua essência é igual.
Boas curvas
andardemoto.pt @ 16-11-2020 19:56:55 - Susana Esteves
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