
Susana Esteves
Jornalista e motociclista
OPINIÃO
Perco a cabeça ou arrisco perder a cabeça?
Há algum tempo tive um acidente de mota “menos agradável”. Depois de garantir que a mota estava bem de saúde (estupidamente a primeira preocupação), de chorar pela alma do casaco de cabedal que os bombeiros tiveram de retalhar e de toda a agitação inicial acalmar (viva as drogas do hospital), dei por mim a pensar: ainda bem que andas sempre com equipamento de proteção de qualidade. Dói quando sai da carteira, mas dói menos quando vamos ao chão.
andardemoto.pt @ 28-12-2021 19:45:05 - Susana Esteves
O meu capacete levou uma pancada bastante forte, mas continuo a usá-lo. Devia? Talvez não. Mas investir num novo capacete é uma daquelas ideias que me arrepiam (no mau sentido).
Tenho uma relação de ódio-ódio com os capacetes. Sempre tive. Foi sempre o que mais detestei, e ainda hoje é o único ponto menos positivo nesta paixão das duas rodas.
- Custa-me respirar
- Odeio a chuva no capacete
- Detesto ter a cabeça apertada e as bochechas quase nos olhos
- Não há cabelo comprido que resista a um capacete diário
- Maquilhagem e capacetes não combinam (definitivamente)
-Brincos e piercings grandes também não
O senhor que me vendeu o meu primeiro capacete era uma pessoa horrível. Contrariou-me em tudo o que eu queria. E ainda bem, senão tinha saído da loja com um capacete 3 números acima do meu, quase todo aberto, com um nível de proteção anedótico e uma correia que quase exigia um MBA para fechar e abrir.
Foi ele que me disse que os capacetes têm de custar a enfiar na cabeça, têm de amolgar as bochechas, esmagar os brincos e custar mais que 50 euros. – Se quer andar de mota e não arriscar a segurança, as regras são estas.
Também foi ele que me explicou que têm data de validade. Na altura achei que estava a gozar comigo. Mas quê… criam grelo, ganham bolor, apodrecem e apanham bicho? Não, mas o material vai perdendo eficácia ao longo dos anos. Confesso que sou uma incumpridora assumida neste domínio. Não mudo de capacete a cada 5 anos, ou 8 de fabrico. Parece-me pouco lógico e uma despesa desnecessária. Mas a verdade é que quando batemos com a cabeça no chão (ou depois), pensamos nestas coisas. Vale a pena arriscar?
É nisto que penso agora. Invisto num novo capacete, ou arrisco e ando com este mais uns anos? Será que o impacto alterou assim tanto o nível de proteção?
Odeio comprar capacetes. O preço é pornográfico. A minha carteira não me deixa ser seguidora das melhores marcas, mas exijo o melhor compromisso qualidade/preço e por isso travo a fundo o meu lado mais forreta.
Não consigo experimentar capacetes em lado nenhum. Eu uso o XS e ninguém tem números destes em stock atualmente. Portanto, a regra é: manda vir e reza para que fique bem. E vocês pensam: mas os capacetes de mulher geralmente têm esses números.
Detesto capacetes de menina/senhora/mulher. Floreados, rabiscos, pintinhas, risquinhas, corações e designs semelhantes em estilo rococó estão na minha lista negra. Cor-de-rosa, azul, turquesa e cores tipicamente condizentes com o meu género estão na minha lista muuuuito negra. Eu gosto de tudo aquilo que só existe para os chamados “homens de barba rija”. Ou seja, XS é quase um mito urbano.
Depois tenho de trocar o intercomunicador. Tudo isso para mim é uma trabalheira e uma potencial dor de cabeça. Em primeiro lugar nunca fica bem à primeira, em segundo sobram sempre várias peças (às vezes as mais importantes).
A decisão agora é: perco a cabeça e compro um capacete novo para festejar a saída da prisão, ou não compro um capacete novo, vou à mesma festejar, com o dinheiro que poupei até consigo ir fazer uns quilómetros extra num passeio de 2 ou 3 dias e se voltar a cair arrisco perder a cabeça?
Boas curvas
28-02-2021
andardemoto.pt @ 28-12-2021 19:45:05 - Susana Esteves
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