Susana Esteves
Jornalista e motociclista
OPINIÃO
Guerra, peixe e paralelos
O título pode parecer estranho, mas passo a explicar.
andardemoto.pt @ 10-11-2022 13:22:48 - Susana Esteves
Tudo começou com um furo no pneu da moto. Uma coisa que pensei que resolvia em algumas horas, mas que meia hora, 20 telefonemas e muitas negas depois se transformou numa dor de cabeça que tinha como prazo de resolução (só) duas semanas.
Duas semanas para trocarem um pneu? Parece treta, mas longe disso.
Como já dizia o meu avô, é cara a cara que se resolvem as coisas, e fui à caça de quem me resolvesse o problema na hora (ou pelo menos no dia). Pareceu-me ridícula a falta de disponibilidade, stock e até vontade de resolver o problema com um simples pneu.
Algumas horas de conversa depois, entre minis (as cervejas, não os carros) e análise da temporada fantástica do Benfica, não saí de lá com o pneu trocado, mas com uma análise realista do atual contexto de mercado.
Aqueles que diziam que a guerra era apenas entre eles, e não “chegava aqui” (como tantas vezes ouvi), já devem ter mordido a língua várias vezes.
Os preços, as cadeias de abastecimento, os materiais… Tudo está no pacote “Coisas que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia veio $%#&!”.
Se juntarmos a falta de peças à forte procura que existe, devido ao aumento substancial do número de motos em circulação usadas nos serviços de entrega de comida (vulgo, Uber Eats da vida), o cenário torna-se mais complicado.
Portanto: o que acontece quando há muita procura, pouca matéria prima e um potencial de negócio grande a fugir? Entra a ajuda do designado mercado paralelo (ou negro, ou ilegal, etc., etc.).
O furto/roubo de motos aumentou novamente. Totalmente justificável – a malta precisa, e as peças dão jeito. E perguntam:
- Mas no teu caso era um pneu, não está nesta equação.
Na verdade está, porque até esses são procurados, desde que estejam em bom estado. Como a minha professora de ciências dizia: “nada se perde, tudo se transforma e aproveita”. E eu até acrescento: “e ganha-se bom dinheiro com isso”.
Quando o material é escasso e alguns profissionais não conseguem resolver rapidamente os nossos problemas, quem consegue chegar-se à frente e oferecer ao cliente o que ele precisa pode cobrar o que quer. E quem fecha os olhos à origem e tem pressa, paga velho ao preço de novo.
E é isto: o contexto do mercado e da guerra alimenta um mercado paralelo (que sempre existiu e irá existir), que vai crescendo à custa de muitos, mas alimentando os bolsos de outros tantos. É a tal pescadinha de rabo na boca que nunca irá terminar.
Para quem vê a sua moto roubada, como já me aconteceu, a sensação é ainda pior. Não só pelo crime, mas porque sabemos que esta “trend” é alimentada por quem compra nesse mercado e fecha os olhos a muita coisa.
Boas curvas
andardemoto.pt @ 10-11-2022 13:22:48 - Susana Esteves
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