“Pai, liga os mísseis!"

Estes foram os primeiros minutos de uma das viagens mais importantes da minha vida. Tinha chegado finalmente o dia de levar o meu filho de 7 anos à escola, de moto, e se isto vos parece um acto sem grande importância, eu argumento com o enervante facto de atravessar uma das piores artérias da cidade (2ª circular) no pico do trânsito, com a carga mais preciosa do mundo. 

Testes foram realizados nos dias anteriores (pequenas voltas no bairro), equipamento adequado foi comprado, e uma mãe preocupada lançou-me todo o tipo de olhares reprovadores.

A grande epopeia estava em andamento…

- Então puto? Estás a curtir? 

Tinham passado os primeiros quilómetros de Auto Estrada, o ruído da deslocação do vento não dava azo a grandes conversas, começava agora o trânsito mais denso…

-. Estás muito caladinho…

- Espirrei e esta esponjinha na frente da boca está molhada e salgadinha..

- Bonita imagem… Agora não há muito a fazer filho. Vamos entrar no grande desafio, furar o trânsito!

- Ó Pai, sabias que no Minecraft criei uma torre? Agora gostava de fazer uma bandeira

- Concentra-te filho por favor. Ouviste o que te disse? Este desafio é muito difícil e preciso da tua ajuda, tens de ficar atento porque os carros às vezes atiram-se para cima de nós

- Ok Pai. Temos mísseis? Porque assim fazemos com eles se desviem

- Mísseis? Claro que temos! 

E assim começou um festival de buzinadelas para avisar os automobilistas da nossa passagem. Os risos eram muitos, o petiz imitava barulhos de lasers, explosões e todo um arsenal destrutivo que nos ajudava a vencer a batalha. Confesso-vos que os nervos eram mais que muitos, bastava uma típica distracção com os malfadados telemóveis (essa praga que polui o discernimento de quem conduz um automóvel) para nos atirar ao chão. 

Por mais preventivos que tentemos ser, e por mais que tentemos calcular o risco, ele está presente, e se sozinho assumo que posso ter um preço a pagar por andar num veículo que me faz tão feliz, deixar que algo de mal aconteça àqueles que amamos é absolutamente impensável. 

Felizmente, foi épico (a experiência de partilha) e sem incidentes de maior. Não sei se o meu coração aguenta fazer isto frequentemente…

Ao final do dia a mãe foi buscá-lo.

- Então, filho? Como é que correu? Gostaste? O Pai andou rápido?

- Sim, chegámos 15 minutos mais cedo! Disparámos mísseis e o Pai está a dever-me 3 € para eu pôr no frasco dos palavrões.