Pedro Alpiarça
Ensaiador
OPINIÃO
A minha prima Inês
Não vos querendo aborrecer com sentimentalismos exacerbados, a verdade é que este vosso escriba teve uma experiência bastante emocional num contexto inesperado.
andardemoto.pt @ 9-9-2023 17:06:00 - Pedro Alpiarça
Um curso de condução desportiva no Autódromo Internacional do Algarve, com uma equipa de excelência encabeçada pelo mui nobre Miguel Praia, seria, por si só, um evento que colocaria a expectativa nos píncaros de qualquer pragmatismo possível. Afinal de contas, é a nossa montanha russa, um carrossel enaltecido pelos melhores pilotos do mundo como desafiante e trabalhoso. Semanas de planeamento meticuloso, muitas horas a ver “onboards” de voltas rápidas, e uma máquina feita à medida para o intento, moldavam o cenário de um dia que se queria ùnico, focado na hercúlea tarefa de absorver tudo.
Mas quis o destino que o tapete da concentração me fosse puxado nos primeiros minutos da experiência. No melhor dos sentidos. Ali estavam eles, sempre de sorriso rasgado, os meus queridos familiares (motociclistas empedernidos, daqueles que vivem as motos o ano inteiro, com horizontes largos e uma paixão enorme pelas duas rodas) traziam a filhota de 20 aninhos para fazer o mesmo curso. No final dos anos 80, a primeira moto que conduzi foi graças à insistência da minha prima, que com a sua intensidade contagiante abriu uma caixa de Pandora que até hoje nunca mais foi fechada.
A pequena Inês, de carácter dócil e sorriso fácil, estava extasiada com tudo o que se passava à sua volta. Sorveu todas as palavras dos mestres, dedicou toda a sua atenção aos aspectos técnicos, tentou controlar o nervoso miudinho perante a enorme magnitude da experiência. Eu tenho gravado na memória a primeira vez que me apercebi de todos os componentes que compõem o acto de dominar uma moto em curva. Desde a importância do acelerador no equilíbrio de massas, ao olhar para o sítio certo, até chegar à veneração dos deuses da borracha. E agora estava a assistir a esse processo. No melhor dos sítios para o fazer, uma folha em branco para a Inês desenhar a sua futura relação com as máquinas que tanto adora.
O que se seguiu, não esteve aquém do espectacular. Não só foi a melhor mulher em circuito, como conseguiu este feito com a embraiagem da sua pequena 400 a entregar a alma ao criador. Sempre interessada em colocar as suas dúvidas, e sempre com o brilho no olhar de quem está a descobrir os seus limites e os da máquina. Parabéns miúda, tens todo o direito de te sentires orgulhosa com o teu feito. Já está mais perto o dia em que irás tentar passar-me por fora…
andardemoto.pt @ 9-9-2023 17:06:00 - Pedro Alpiarça
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