Pedro Alpiarça
Ensaiador
OPINIÃO
A aventura como mínimo existencial
Não há motos perfeitas, existem as motos ideais para cada propósito, e essa definição é dada pelo motociclista, pela sua própria capacidade de sentir uno com a máquina.
andardemoto.pt @ 22-3-2022 14:43:56 - Pedro Alpiarça
Mais rápido, mais tecnológico, mais imediato, mais exposto ao mundo, mais aventureiro. Um quotidiano que nos ultrapassa e nos cria expectativas cada vez mais inatingíveis. Uma realidade que nos assoberba e coloca pressão para nos transfigurarmos.
Este é o nosso algoritmo, estes são os moldes de uma sociedade que vive cada vez mais de uma imagem que temos de vender. No nosso contexto motorizado, resume-se a uma palavra: Aventura.
Mas nem na nossa língua pátria podemos utilizá-la. O termo anglo-saxónico “Adventure” é o mote para criar qualquer máquina que queira ter o mínimo de sucesso, num vasto segmento de mercado.
Se nos primórdios da engenharia motociclística bastavam umas simples adaptações nas suspensões e um par de pneus mais cardados para atravessarmos continentes, hoje em dia os heróis mostram-se nas ruas mais movimentadas das cidades, onde qualquer mala de alumínio pendurada numa moto de 250 Kg tem de ter, pelos menos, 20 autocolantes de países diferentes e outros tantos de eventos onde se juntaram a outros da sua tribo.
Vivemos tempos felizes, portanto. Onde a escolha do nosso caminho é acompanhada pelo desenvolvimento específico de uma máquina que não nos desilude.
Seja pela capacidade motriz, aptidão ciclística, ou até mesmo pela leve semelhança estética de modelos icónicos que fizeram história em competições lendárias, existem neste momento centenas de opções que nos permitem enquadrar a aventura na nossa zona de conforto.
A nossa confiança em conquistar o mundo, independentemente do tamanho do riacho, ou da subida mais íngreme, está directamente ligada à moto que escolhemos para o fazer. Interessa apenas querer alargar os nossos horizontes, viver uma aventura, vincar na nossa memória imagens e sensações de superação.
Claro está, que existem aqueles que continuam a acreditar que não existem máquinas capazes de fazer tudo bem. Que a acutilância técnica de uma pista nunca poderá ser abordada com uma jante acima de 17”, ou que um trilho mais agressivo nunca poderá ser conquistado com uma jante com menos de 21”. E é nestes cenários que nascem os mitos, as lendas.
Não há motos perfeitas, existem as motos ideais para cada propósito, e essa definição é dada pelo motociclista, pela sua própria capacidade de sentir uno com a máquina. Quem somos nós para julgar o espírito aventureiro do próximo?
Pode nunca ter pisado um quilómetro de terra batida, mas se amanhã quiser atravessar o Alto Atlas pelo Cirque du Jaffar, tem debaixo dele um veículo que o consegue fazer. Mais do que um veículo, um passaporte para a eterna felicidade. E se amanhã chover e a partida tiver de ser adiada, basta parar no café e dizer aos amigos que ela está pronta!
andardemoto.pt @ 22-3-2022 14:43:56 - Pedro Alpiarça
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