Pedro Alpiarça
Ensaiador
OPINIÃO
Cortesia e Civismo
Tenho a plena noção de que os tempos em que vivemos são profícuos à falta de paciência e de noção de sentido cívico. Andamos fartos da rotina, cansados das falhas do sistema, sem esperança na chegada de dias melhores.
andardemoto.pt @ 22-7-2023 12:00:00 - Pedro Alpiarça
Ao mais pequeno rastilho explodimos sem margem de razoabilidade, como se naquele preciso momento conseguíssemos justificar ao mundo todos os nossos dramas interiores. Mas é preciso ter noção do próximo, amealhar-mo-nos dos seus céus tempestuosos e ceder na postura irada.
Todos os dias, percorro uma das artérias mais complicada da grande Lisboa, em plena hora de ponta. Sendo um privilegiado (cada vez mais) por conduzir um veículo que me permite ocupar espaços mais exíguos, saio de casa meia hora mais tarde do que seria normal, na certeza de que trânsito compacto não me impede a marcha, apenas diminui a fluidez de movimentos. E todos os dias assisto aos comportamentos exageradamente desadequados dos meus colegas das duas rodas.
O cenário é clássico, sempre que rolamos no meio dos automóveis, basta existir um que demore mais tempo a desviar-se, cai o Carmo e a Trindade e soltam-se os cães do Inferno. Buzina-se, vocifera-se e lançam-se olhares provocadores do interior do capacete. Como se um crime fosse cometido, como se tivesse sido declarada guerra contra o clã. Pois que na verdade, quem incorre na ilegalidade, é o motociclista, aquela manobra não lhe é permitida, o que não significa que não seja tolerada. Não temos o direito de exigir espaço para passar, quando não existe esse quadro legal no código da estrada.
Atenção que não me refiro à brusca mudança de direcção (aquele clássico pisca aberto e guinar de volante sem olhar para o espelho), ou à condução errática causada pelo uso do telemóvel. A situação que aqui exponho é a assumpção que temos o direito de ocupar o espaço entre duas faixas de rodagem sempre que o contexto nos é vantajoso. Por isso é que vamos de moto, certo?
Pois agora coloquem-se do outro lado. Sentados ao volante, atrasados para mais um dia de trabalho, dobrando ou triplicando o tempo num trajecto que está pejado de outros desgraçados no mesmo estado de espírito. E mesmo assim, têm de levar com os tipos das motos a exigirem passagem, de forma categórica e rude. Selvagens!
Se pedimos cortesia aos restantes utilizadores da estrada, temos de ter o civismo de agradecer, é tão simples quanto isso. Gentileza gera gentileza, e a inteligência emocional distancia-nos dos animais. E se somos cada vez mais, não somos iguais aos outros, por isso temos de lhes mostrar que temos noção do nosso privilégio. Parece simples, certo?andardemoto.pt @ 22-7-2023 12:00:00 - Pedro Alpiarça
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