Adelina Graça

Adelina Graça

Duas rodas, duas asas

OPINIÃO

Não sigas ninguém que te aborde em andamento!

A ex-nação socialista situada aos pés do Adriático dá por nome de Albânia, é um país cuja história de violência marcou muito a minha geração que se lembra da famigerada guerra dos Balcãs, depois do período conturbado da era Soviética.

andardemoto.pt @ 2-9-2023 17:00:00 - Adelina Graça

Os mitos são mais que muitos e, talvez por isso, as histórias sinistras mal contadas eram um temor para a minha pequena alma aventureira.

“não vás para aí!” “é perigoso!” “há máfias”

Bem, vamos por partes.


Confesso que saí do porto de Bari para Durrês um pouco apreensiva, depois de tanta história, sentia que estava a colocar-me demasiado em risco. Mas há duas coisas que me acompanham sempre, para felicidade ou infelicidade minha, a primeira é a teimosia, a segunda que está relacionada com a primeira, é que eu prefiro sempre tirar as minhas conclusões, mas para isso, é preciso ir.

E fui.

Na verdade, ao longo destas poucas viagens que fiz, tenho sentido que o Mundo é sempre um pouco diferente daquilo que nos contam.

Quando cheguei a Durrês senti de imediato que tinha de me ambientar ao trânsito caótico, coisa que não seria complicada, não fosse o caso de há horas ter estado na Itália e no dia anterior mais propriamente em Roma, talvez por esse facto pensei: “bem, será mais do mesmo!”

Com um trânsito caótico, decidi andar um pouco junto à zona balnear, para me ambientar e de alguma forma, tentar perceber alguma daquela sinalização, por vezes impercetível.

Confesso que não tive tempo de pensar nas Máfias e nos inúmeros inventos sinistros que me tinham contado sobre aquele país, afinal, naquele momento, só queria perceber qual era a minha faixa e como evitava levar com um carro, um camião, um trator ou até uma carroça com um burro tresloucado.


Sem olhar muito para o GPS, até porque naquele momento pouco me importava a rota, tentei progredir junto à costa, procurando um lugar onde parar e beber uma água, tranquila, enquanto assimilava o novo mundo.

As histórias têm sempre um quanto de exagero, mas também um pouco de realidade, ainda em Durrês senti que o mundo ali é um pouco diferente, talvez porque também ia “de pé atrás”.

Parei a moto na marginal e pedi uma água na esplanada do café. A marginal caótica denunciava o mar ali a uns 20 metros, por ruas perpendiculares, que fazem vislumbrar o mar.

Claro está, com o mar ali ao pé tenho de ir espreitar a praia, percebi nesse imediato que as atenções naquele momento caíram sobre mim, a cada metro que progredia a pé, pela rua para a praia, os olhares eram cada vez mais desconfortáveis, confesso que, talvez o facto de ter ouvido tantas histórias, a coisa me parecesse mais assustadora. Por isso, não arrisquei mais e voltei para trás, direitinha à moto e à rua principal.

Pensei, talvez esteja doida com as histórias.


Já com o GPS a apanhar o sinal e com o lago Ocrida na rota, arranquei, pela primeira vez senti receio no que me estava a meter.

Assim que arranquei, passa um carro por mim, um daqueles mercedes cujo esplendor de décadas passadas deu origem a ferrugem, com um tipo a conduzir de aspeto duvidoso e a insistir num “fallow me!” de uma pronúncia tão duvidosa quanto o aspeto.

Solução, abrandar, deixar passar vários carros até ele ser engolido na torrente do trânsito caótico e ser obrigado a seguir, depois arrancar estrada fora sem hesitações.

Depois do meu nini momento 007 pensei, mas que raio de país é este? Estarei segura?

Assustada, lá continuei o meu caminho para confirmar depois aquilo que já era expectável, como aliás já tinha percebido noutras circunstâncias, assim que sais das grandes metrópoles a coisa acalma e começas a perceber que nem toda a gente te quer mal, muito pelo contrário.

Albânia é um país maravilhoso, do qual terei o maior prazer em contar as minhas experiências nas próximas crónicas, desde a paisagem, aos restos mortais de outras guerras, ao maravilhoso mar, à Baviera Albanesa, ou às pequenas loucuras que fazem daquele país um lugar único, como sejam, colocar a moto em cima do Butrint Ferry que não passa de uma jangada mal-amanhada, para atravessar um pequeno braço do Adriático.

Não posso, no entanto, acabar a crónica sem abordar a questão da segurança e do pouco que aprendi.

Uma mulher que viaja na sua própria moto tem as suas vantagens e são muitas, mas também as suas fragilidades, o risco de abordagem para além de ser elevado obriga-te a um esforço acrescido de desconfiança.


Por isso, passei a ter o cuidado de fazer sempre uma ambientação quando entro num país cujas histórias más proliferam, assim, antes de me deslocar para qualquer ponto marcado no GPS, dirijo-me primeiro para uma zona movimentada e de preferência turística, paro a moto, e tento perceber como as coisas funcionam, meto conversa com pessoas que me pareçam afáveis, converso com os empregados do café, sobretudo naqueles cafés de explanada onde proliferam turistas, converso com os próprios turistas, se for malta de moto melhor, e tento perceber onde me estou a meter e que cuidados devo ter.

Nesse momento todos os conselhos são absolutamente valiosos!

Depois não posso esquecer que, mulher de moto chama a atenção, boas e más, e como não tens nenhum juízo sobre as pessoas, desconfia! Nunca, nunca sigas ninguém que te aborde em andamento, mesmo que te pareça inofensivo e que pareça que está a tentar ajudar.

Se precisar de ajuda paro! Tento encontrar alguma autoridade local que me possa explicar melhor o trajeto.

Mas para terminar esta crónica e não deixar uma má ideia sobre a segurança na Albânia, acabo a afirmar que, depois deste episódio e durante todo o tempo que estive na Albânia, desde o interior ao litoral, nunca senti mais qualquer tipo de insegurança, embora tenha algumas histórias para contar a fazer lembrar “missões impossíveis” num país misterioso e ao mesmo tempo absolutamente maravilhoso!

andardemoto.pt @ 2-9-2023 17:00:00 - Adelina Graça


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