Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Baza
Depois de uma noite tranquila e retemperadora, era dia de arrancar para a Serra de Baza, o objetivo era chegar ao Deserto de Tabernas. Já tinha investigado um pouco e estava curiosa.
andardemoto.pt @ 31-8-2022 17:40:59 - Adelina Graça
Vamos por partes, nunca percebi a lógica dos ingleses circularem no sentido contrário, a não ser quando cheguei à Serra de Baza. Na verdade, o sentido de circulação faz-se normalmente, como até ali; a única diferença é que com o precipício do lado direito, sem qualquer guarda de proteção, a “Rodas Altas” passou a querer circular apenas do lado esquerdo.
A regra de “não olhes para o precipício” passa a ser difícil de aplicar, porque ele parece que nos entra pela vista dentro.
A paisagem é árida e agreste, a fazer lembrar outras paragens no continente vizinho, um deserto em tons ocre a perder de vista.
Para além de uma paisagem deslumbrante a estrada é muito boa, retorcida como bem gostamos, proporcionando momentos de verdadeira diversão, apenas a presença do precipício te faz retroceder o punho direito.
Conforme vais descendo a serra, em direção a Tabernas, a paisagem ainda se torna mais árida, um cenário que nos faz sentir parte de um filme do velho oeste com o Terence Hill e o velho Bud Spencer, que nos anos 90 nos entravam pela TV.
Não podia deixar de visitar o Fort Bravo de Tabernas, o famoso Texas Hollywood. Para quem não sabe, ali foram gravados mais de 300 filmes, alguns deles bem conhecidos e os quais associamos ao velho Texas Americano. Mas, para além dos Western, foram ali filmadas também algumas das cenas de filmes tão conhecidos como o “Lawrence of Arabia” ou o “Indiana Jones”, entre tantos outros.
Como podem imaginar, a paisagem não deixa ninguém indiferente.
Para lá chegar tive que fazer um pequeno troço de terra, que muito embora deixasse a “Rodas Altas” empoeirada, valeu bem a pena!
Após aquele momento Hollywood, lá arranquei novamente na minha montada rumo ao Cabo de Gata, Almeria.
O Cabo de Gata fica no extremo sul da província de Almeria e deve o seu nome à abundância de ágatas na zona. Com o espelho do mediterrânio pela frente o tempo parece parar, e ali fiquei a contemplar.
Depois, foi seguir para Nijar, para mais um descanso retemperador num pequeno, mas agradável, Hostel, onde jantei num terraço com uma maravilhosa vista sobre a serra e o mar.
Viajar de moto é uma contemplação constante, independentemente do destino, tudo faz parte de uma aventura que muda a forma como olhas o Mundo. Sentimo-nos a viajar dentro de nós, procurando aproveitar cada momento como único, cheguei até aqui! Não sei como será amanhã, não sei se será fácil ou simples, mas com toda a certeza, encontrarei uma solução.
Desde os dias em que com os amigos de adolescência, dávamos ao pedal incessantemente para ouvir aquele grito de liberdade da pequena cinquentinha que percebi, mais do que uma pequena máquina, ela era a minha aventura, o meu desafio e a minha liberdade.
É com um enorme sorriso nos lábios e um coração cheio que, depois de tantas aventuras pelas quais vou passando, voltar a reencontrar esses amigos na pequena aldeia de Vale de Vargo, bem no coração do meu Alentejo profundo, e ver que, de uma maneira ou outra, continuamos todos as nossas aventuras das duas rodas. Afinal, mesmo longe estamos tão perto!
A eles e ao pequeno grande grupo motard VVolor lhes deixo aqui um beijinho especial, porque, sem vocês e sem a minha pequena cinquentinha, hoje o meu mundo não seria o mesmo.
Junho 2022
andardemoto.pt @ 31-8-2022 17:40:59 - Adelina Graça
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