Adelina Graça

Adelina Graça

Duas rodas, duas asas

OPINIÃO

A Floresta Assombrada

Há pouco tempo, assisti a uma conversa que me deixou repleta de dúvidas. Discutia-se o que caracterizava uma viagem de aventura, uma viagem de touring, uma viagem de raid, entre outras definições.

andardemoto.pt @ 23-12-2024 12:30:00 - Adelina Graça

Confesso que, além de não ter saído com uma compreensão clara sobre o assunto, não me preocupei muito com a minha ignorância.

Ao longo de todas as minhas viagens, passei por estradas de terra extraordinárias e por péssimas estradas pavimentadas. Dessa forma, não consigo distinguir, de facto, o que seria uma aventura, um touring ou qualquer outra designação que se queira utilizar. O que realmente importa são os lugares incríveis que conheci: alguns de acesso fácil, outros difíceis, outros enigmáticos ou, pior ainda, aterrorizantes.

Nesta crônica, falo-vos da enigmática floresta de Hoia-Baciu, situada a oeste da cidade de Cluj-Napoca, na mística Transilvânia (terra do famoso Vlad), na Romênia. Sempre que organizo uma viagem, procuro lugares diferentes, muitas vezes distantes do turismo convencional, ou, de alguma forma, bizarros — seja em relação à natureza ou às pessoas que lá habitam.

Sou, em grande parte, cética; acredito no que a ciência explica e tenho fé de que ela esclarecerá o que ainda não foi compreendido. Confesso que o misticismo que envolve certos locais e a aura intrínseca da natureza e das narrativas evocam um tipo de sugestionamento que, ao confrontar a razão, frequentemente me desencadeia um arrepio na espinha.

Sobre Hoia-Baciu, as histórias proliferam como sombras na penumbra. Considerada por muitos a floresta mais assombrada do mundo, respira lendas e mitos. Se querem saber mais, basta ir às "internets" desta vida.

A minha experiência lá, no entanto, foi de algum modo peculiar. Longe de avistar OVNIs ou presenças espectrais, deparei-me com a singularidade incontestável do lugar. A primeira peculiaridade que observei foi o comportamento errático do meu fiel GPS, que apresentava no ecrã coordenadas absurdamente distantes, um verdadeiro enigma no meio da confusão, incapaz de fixar-se num ponto, até mesmo quando a moto estava parada.


O que parecia já intricado tornava-se ainda mais bizarro; a sensação de sugestionamento envolvia a atmosfera, transformando cada passo numa cena digna de um thriller de Hitchcock. Arrisquei-me, no entanto, num curto passeio a pé: estacionei a moto ao longo de uma das escassas estradas que se infiltram no emaranhado verde e, passo a passo, entrei naquela densa floresta. Ciente de que qualquer sussurro poderia levar-me a um surto cardíaco ou a uma reação heroica, com a minha mini navalha em riste — que só se presta para abrir uma lata de atum — mataria o fantasma de riso, certamente!


A floresta, como já mencionei, tem uma vegetação densa e retorcida. Os carreiros internos entrelaçam-se e confundem-se, fazendo perder a orientação e evaporar como a névoa que surgia das sombras, por baixo das copas altas das árvores, por onde passam pequenos e introvertidos raios de sol. Não são raros os momentos em que autoridades Romenas são chamadas para resgatar almas perdidas entre a bruma da floresta, embora, naturalmente, contrariadas (mais um turista palerma). O calor e a humidade intensos, mesmo sob temperaturas próximas dos 40 graus, criam uma atmosfera quase sobrenatural, com névoas baixas, misteriosas e sinistras.

Assim, após essa breve e intrigante incursão, voltei à moto enquanto um pensamento atravessava a minha mente: "Epá, isso com a ciência não se brinca!" E assim, com a coragem ligeiramente enfraquecida, consigo afirmar, para mim a verdadeira aventura transcende a estrada que se pisa; é, acima de tudo, a confrontação com o desconhecido. Essa é a verdadeira aventura!

andardemoto.pt @ 23-12-2024 12:30:00 - Adelina Graça


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