
Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Em Roma sê Romano
Em 2022 resolvi passar o Mediterrânio e o Adriático para uma aventura nos Balcãs.
andardemoto.pt @ 29-7-2023 12:30:00 - Adelina Graça
A aventura começou com a chegada ao porto de Civitavecchia, depois de 24 horas passadas no Cruise Roma com partida em Barcelona. Isto sem contar com a tirada seguida, de Lisboa a Barcelona, que, confesso, fizeram sentir todos os ossinhos do corpo! Coisa a não repetir.
Em Roma sê Romano! Se há coisa que os Tugas sabem fazer bem é adaptar-se aos lugares, mas conduzir em Roma é um saco de gatos, uma perfeita loucura, caos completo, não há como descrever, é mais ou menos como estares numa máquina de lavar em plena centrifugação à procura da moeda que ficou nas calças.
Bem, com o tempo consegues fazer orgulhosamente quase tantos disparates quanto eles, mas claro, há sempre um romano que consegue surpreender com mais uma manobra acrobática.
Depois de sair de Civitavecchia e ter passado pela loucura de Roma, cheguei, com o coração ainda a mil e com o dicionário de impropérios completamente gasto, a Artena.
Artena é uma cidade a sul de Roma absolutamente maravilhosa, para quem não conhece vale mesmo a pena!
O centro histórico que se desenvolve ao longo da colina do Monte Lepini é de uma beleza extraordinária, mas foi também uma espécie de cereja no topo do bolo, depois de Roma.
Explicando melhor.
Quando defines o teu itinerário nos “google maps” desta vida, há uma coisa que tu não vês. A primeira, os que lá conduzem, a segunda, como será a estrada e o acesso.Já tinha experimentado o caldeirão de Roma, quando cheguei a Artena e precisava de chegar ao centro histórico, deparei-me com uma cidade em plena encosta, em que os sopés das portas batem nos telhados das casas vizinhas. A primeira imagem do acesso, antes de entrar nas ruas apertadas, foi uma rotunda numa parede, sim, não estou a exagerar muito, o desnível de cota era tão grande que, se parasses na rotunda e tivesses de colocar o pé no chão do lado esquerdo, mesmo que tivesses 3 metros, caías de cabeça para baixo.
Depois, imaginem entrar naquelas ruas apertadas com uma inclinação incrível e calçada Romana. Um autêntico teste aos nervos já desfeitos depois de Roma. Assim que cheguei ao largo da zona histórica parei a moto e pensei: chiça, sobrevivi hoje… Agora finalmente o descanso merecido.
Pois, pensava eu!
Entretanto, chega um simpático Italiano, dono do hostel onde iria ficar depois de toda a epopeia, com uma amabilidade fora de série e que prontamente se dispôs a levar as malas, a quem perguntei?
“Onde fica o Hostel?”
“Lá em cima?”
“Em cima onde?”
“Lá no pendurico!”
Nãooooo! Depois de tanto subir com a moto, agora tinha de fazer uma etapa de alpinismo por ruas estreitas, com escadinhas a perder de vista, de capacete na mão e parte das malas na outra.
“Então, mas não há outra forma de lá chegar que não seja a pé? (perguntei)”
“Não, é domingo e as mulas que levam os turistas e as malas estão em dia de descanso.”
Pensei, mas que raio se passa hoje? Só falta mesmo o piano cair-me em cima.
A subida foi, como seria de esperar, um tormento face ao cansaço que já tinha, mas a extraordinária beleza da cidade, a boa disposição do Italiano, que brincava com a situação, e umas paragens nuns bares, subida acima, foi um tónico para passar o tempo todo a rir até chegar ao quarto que, diga-se, tinha uma vista de cortar a respiração.
Na manhã seguinte, tinha um pequeno-almoço fabuloso na varanda, com uma vista perfeita sobre a colina, feito pela amável esposa do Italiano.
Tinha valido o esforço. O sentimento era, ainda nem cheguei ao porto de Bari e já vivi um milhão de emoções.
andardemoto.pt @ 29-7-2023 12:30:00 - Adelina Graça
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