![Adelina Graça Adelina Graça](http://as.sobrenet.pt/s/image/tsr/brandm/content/x382/oyzc4lokcibutmsbekfcthvx5q2.jpg)
Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Lago Ohrid
Voltando à Albânia e aos seus tesouros. A Albânia, como grande parte dos países de Leste, são um misto de descoberta e de intensidade. Desde a sua abertura ao mundo ocidental que ficaram em nós os mitos, ou nem por isso, de civilizações enigmáticas e talvez até um pouco sombrias.
andardemoto.pt @ 24-2-2024 12:30:00 - Adelina Graça
Talvez isso afete de alguma forma a predisposição.
Sim, a sensação que tive na Albânia foi de deslumbramento, mas também algumas emoções sinistras, por vezes, admito, baseadas em pré-conceitos ou talvez não…
A orografia é dramática assim que saí da zona costeira e entrei nas montanhas dos Alpes Dináricos, as estradas transformam-se em serpentinas que acompanham as curvas de nível e sobem a um ritmo vertiginoso - a palavra de ordem é mesmo vertiginoso! Ganchos fechados que, em pouco espaço, sobem dois ou três metros. Significa isso duas coisas, primeiro, vais à via contrária, irremediavelmente, porque o ângulo é demasiado apertado, depois, sabes que do lado interior da curva tens um desnível enorme, o que significa que se a moto parar e inclinar para esse lado, a queda é inevitável e aparatosa. E agora imagina isto com trânsito, por vezes pesados, em sentido contrário, a descer, agarrados aos travões como se não houvesse amanhã para, simplesmente, não ir parar ao Adriático.
Um exercício de sangue-frio em que tinha de olhar o trânsito contrário, que circulava acima da minha cabeça e medir os compassos, para que pudesse ir à outra faixa sem ter um encontro imediato.
Depois, assim que passas o gancho, é inevitável controlar o suspiro, sobretudo porque a expressão seguinte é tão simplesmente “UAUUU!”: a paisagem é avassaladora.
A montanha, fria, cinzenta, escarpada e vertiginosa é como uma parede que se ergue à minha frente, desafiando-me a enfrentar a natureza agreste e quase intransponível que vai contrastando com o azul-marinho, suave, pacífico e de horizonte inalcançável, o sereno Adriático.
Da montanha, saltam parapentes que deslizam sobre o mar, como pássaros de voo sereno, fazendo-me arrefecer o stress depois de cada gancho que me aparece pela frente.
É uma experiência de condução no mínimo inesquecível. Inesquecíveis são também as memórias de quando cheguei lá acima e parei a moto, ainda com o coração a pulsar descontroladamente e olhei o Adriático lá em baixo, bem abaixo dos meus pés, de tons verdes e azuis, sereno, a perder-se no horizonte sob um sol resplandecente.
Na primeira passagem pela Albânia o objetivo era chegar à Macedónia do Norte e, naturalmente, passar junto do lago Ohrid. Imaginem quando cheguei ao cimo da montanha, depois da experiência anterior, começar a descer e olhar para um lago oval com 350 km2, ladeado de montanhas em cujos cumes ainda se vislumbrava neve.
Desci, sempre com o lago pela frente, numa serpentina que contorna cada curva de nível, agarrada aos travões, com a moto engatada numa segunda e a imaginar que os ganchos agora são a descer. Bem, não há alternativa!
Depois da descida, cheguei à margem do lago, situado num vale profundo no meio das montanhas, de águas límpidas e tranquilas, um dos mais antigos do mundo. Com pequenas praias naturais que chamam por mim, fazendo-me pensar em parar a moto e saltar para aquelas águas límpidas, transparentes, assim mesmo, de equipamento vestido e tudo!
Dizem que o lago tem águas transparentes até aos 22 metros de profundidade, para mim, talvez seja mais que suficiente para dar um mergulho com o meu metro e sessenta e não chegar ao fundo.
Mas nos Balcãs o sinistro contrasta sempre com a paisagem, seja ele natural ou não. Durante a viagem fui sempre deparando com vários Bunkers e, imaginem, existe um Bunker no lago.
A imagem que guardo é de uma muralha redonda de betão que emerge do fundo do lago, uma estrutura cinzenta e fria ao estilo 007, um objeto que faz lembrar outros tempos de guerra fria, que se vai degradando ao passar do tempo e cujos elementos vão tratando de afundar um dia naquele imenso lago. Objeto que contrasta com um lago azul, cheio de vida, com imensas aves e plantas que pintam as margens de verde e cuja temperatura da água à superfície chega aos 26 graus, fazendo a delícia dos poucos veraneantes que se deleitam com aquela maravilha da natureza.
Albânia foi para mim um misto de sensações e de aventuras sui generis, que continuarei a contar nas próximas crónicas.
andardemoto.pt @ 24-2-2024 12:30:00 - Adelina Graça
Outros artigos de Adelina Graça:
Ensinamentos que abrem caminhos
As Pessoas que Encontramos pelo Caminho
Transporte de motos para o mundo
O meu coração está com Marrocos
Não sigas ninguém que te aborde em andamento!
Pays Basque, os Pirenéus Atlânticos
Do Palácio de Magdalena ao Palácio de Cristal
Quando chega ao fim do dia, o que sobra da amizade?
Último dia da viagem à Andaluzia
Galeria de fotos
Clique aqui para ver mais sobre: Opiniões