Adelina Graça

Adelina Graça

Duas rodas, duas asas

OPINIÃO

Lago Ohrid

Voltando à Albânia e aos seus tesouros. A Albânia, como grande parte dos países de Leste, são um misto de descoberta e de intensidade. Desde a sua abertura ao mundo ocidental que ficaram em nós os mitos, ou nem por isso, de civilizações enigmáticas e talvez até um pouco sombrias.

andardemoto.pt @ 24-2-2024 12:30:00 - Adelina Graça

Talvez isso afete de alguma forma a predisposição.

Sim, a sensação que tive na Albânia foi de deslumbramento, mas também algumas emoções sinistras, por vezes, admito, baseadas em pré-conceitos ou talvez não…

A orografia é dramática assim que saí da zona costeira e entrei nas montanhas dos Alpes Dináricos, as estradas transformam-se em serpentinas que acompanham as curvas de nível e sobem a um ritmo vertiginoso - a palavra de ordem é mesmo vertiginoso! Ganchos fechados que, em pouco espaço, sobem dois ou três metros. Significa isso duas coisas, primeiro, vais à via contrária, irremediavelmente, porque o ângulo é demasiado apertado, depois, sabes que do lado interior da curva tens um desnível enorme, o que significa que se a moto parar e inclinar para esse lado, a queda é inevitável e aparatosa. E agora imagina isto com trânsito, por vezes pesados, em sentido contrário, a descer, agarrados aos travões como se não houvesse amanhã para, simplesmente, não ir parar ao Adriático.


Um exercício de sangue-frio em que tinha de olhar o trânsito contrário, que circulava acima da minha cabeça e medir os compassos, para que pudesse ir à outra faixa sem ter um encontro imediato.

Depois, assim que passas o gancho, é inevitável controlar o suspiro, sobretudo porque a expressão seguinte é tão simplesmente “UAUUU!”: a paisagem é avassaladora.

A montanha, fria, cinzenta, escarpada e vertiginosa é como uma parede que se ergue à minha frente, desafiando-me a enfrentar a natureza agreste e quase intransponível que vai contrastando com o azul-marinho, suave, pacífico e de horizonte inalcançável, o sereno Adriático.

Da montanha, saltam parapentes que deslizam sobre o mar, como pássaros de voo sereno, fazendo-me arrefecer o stress depois de cada gancho que me aparece pela frente.

É uma experiência de condução no mínimo inesquecível. Inesquecíveis são também as memórias de quando cheguei lá acima e parei a moto, ainda com o coração a pulsar descontroladamente e olhei o Adriático lá em baixo, bem abaixo dos meus pés, de tons verdes e azuis, sereno, a perder-se no horizonte sob um sol resplandecente.


Na primeira passagem pela Albânia o objetivo era chegar à Macedónia do Norte e, naturalmente, passar junto do lago Ohrid. Imaginem quando cheguei ao cimo da montanha, depois da experiência anterior, começar a descer e olhar para um lago oval com 350 km2, ladeado de montanhas em cujos cumes ainda se vislumbrava neve.

Desci, sempre com o lago pela frente, numa serpentina que contorna cada curva de nível, agarrada aos travões, com a moto engatada numa segunda e a imaginar que os ganchos agora são a descer. Bem, não há alternativa!

Depois da descida, cheguei à margem do lago, situado num vale profundo no meio das montanhas, de águas límpidas e tranquilas, um dos mais antigos do mundo. Com pequenas praias naturais que chamam por mim, fazendo-me pensar em parar a moto e saltar para aquelas águas límpidas, transparentes, assim mesmo, de equipamento vestido e tudo!

Dizem que o lago tem águas transparentes até aos 22 metros de profundidade, para mim, talvez seja mais que suficiente para dar um mergulho com o meu metro e sessenta e não chegar ao fundo.

Mas nos Balcãs o sinistro contrasta sempre com a paisagem, seja ele natural ou não. Durante a viagem fui sempre deparando com vários Bunkers e, imaginem, existe um Bunker no lago.

A imagem que guardo é de uma muralha redonda de betão que emerge do fundo do lago, uma estrutura cinzenta e fria ao estilo 007, um objeto que faz lembrar outros tempos de guerra fria, que se vai degradando ao passar do tempo e cujos elementos vão tratando de afundar um dia naquele imenso lago. Objeto que contrasta com um lago azul, cheio de vida, com imensas aves e plantas que pintam as margens de verde e cuja temperatura da água à superfície chega aos 26 graus, fazendo a delícia dos poucos veraneantes que se deleitam com aquela maravilha da natureza.

Albânia foi para mim um misto de sensações e de aventuras sui generis, que continuarei a contar nas próximas crónicas.


andardemoto.pt @ 24-2-2024 12:30:00 - Adelina Graça

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