
Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Viajar
Enquanto vos escrevo estas palavras estou sentada ao computador a preparar a próxima viagem de moto.
andardemoto.pt @ 29-6-2024 12:35:00 - Adelina Graça
Muito se pode dizer e romancear sobre viagens de moto, com alguns clichés à mistura.
Para mim, a viagem de moto começa naturalmente com o planeamento e o meu planeamento tem um princípio base, não vou só andar de moto, quero conhecer, quero descobrir aquilo que se perdeu no tempo, as paisagens esquecidas pelas novas autoestradas que cruzam as planícies e as montanhas, sem deixar tempo para as contemplar.
Depois de definir os lugares por onde quero passar, coisa que nem sempre é fácil, começo a sentir a euforia da descoberta, da aventura, da procura de locais cujo tempo ou mundo global aos poucos vai fazendo esquecer.
É nessa altura que embarco numa pesquisa inebriante pelos confins da internet, por aqueles lugares únicos que já quase ninguém se lembra, a história que apaixona, os mistérios que as lendas dramatizam, as pessoas que nos ensinam a olhar o mundo de forma diferente.
Depois, procuro no sem número de aplicações, os melhores traçados para lá chegar, como chegar, com mais ou menos curvas, mais ou menos montanhas, mais ou menos estrada.
E porque viajar de moto não é só andar de moto, é preciso parar, apreciar, ouvir e ver a história, contemplar e naturalmente descansar, para que no outro dia a moto nos pareça ainda mais apaixonante.
Se algo aprendi ao longo dos tempos é que não vale a pena atravessar dezenas de países e não sentir nenhum, não vale a pena fazer mil quilómetros se não apreciaste um. Não vale a pena atravessar cem cidades se não te sentaste numa única explanada a ouvir aquela língua que não percebes.
É por isso que hoje, sentada frente ao computador, procuro os lugares escondidos na Roménia, na Sérvia, na Eslovénia, os lugares que fazem parte da história, das lendas, da cultura. Os lugares que não figuram nas lojas de marca da grande cidade, locais autênticos.
E sim, andar de moto é também parar, faço disso a minha viagem, porque nos dias em que é preciso parar, porque naquele lugar existem coisas para contar, nesse dia ando mais de moto, mesmo não lhe tocando, do que qualquer milhar de quilómetros numa autoestrada.
Andar de moto é também adormecer com aquele sorriso de paz e alma cheia, que antecipa uma nova manhã com a “rodas altas” que serenamente me aguarda numa qualquer rua da cidade, da aldeia ou simplesmente no meio da montanha.
Vamos lá! Já falta pouco para sermos felizes.
Viajar é sentir a história, as lendas, os cheiros, as pessoas, o medo do desconhecido a aventura que corre dentro de nós, e sobretudo do teu imaginário, porque quando viajas de moto viajas dentro de ti, do capacete ao coração é um milésimo de segundo.
(abril 2024)
andardemoto.pt @ 29-6-2024 12:35:00 - Adelina Graça
Outros artigos de Adelina Graça:
Ensinamentos que abrem caminhos
As Pessoas que Encontramos pelo Caminho
Transporte de motos para o mundo
O meu coração está com Marrocos
Não sigas ninguém que te aborde em andamento!
Pays Basque, os Pirenéus Atlânticos
Do Palácio de Magdalena ao Palácio de Cristal
Quando chega ao fim do dia, o que sobra da amizade?
Último dia da viagem à Andaluzia
Clique aqui para ver mais sobre: Opiniões