Adelina Graça

Adelina Graça

Duas rodas, duas asas

OPINIÃO

O meu coração está com Marrocos

Para nós que vivemos as viagens de moto intensamente, Marrocos é sempre a porta que abre o coração ao continente africano e à aventura.

andardemoto.pt @ 30-9-2023 21:54:00 - Adelina Graça

Sempre que atravesso o mar e entro no porto de TangerMed sinto que estou noutro mundo, os cheiros das especiarias, as pessoas, as paisagens que mudam a cada instante, as cores, o calor, o frio, os ventos do deserto, tudo é um desafio e um bálsamo para a alma de quem por lá se aventura.

Adoro viajar por aquelas estradas secundárias que nunca sabes como vão terminar. A moto queixa-se a cada cratera, salta, ressalta, derrapa e como se não bastasse, queixa-se do calor muitas vezes insuportável.

Cada etapa é um desafio infinitamente recompensado pelas paisagens, pela gastronomia, mas fundamentalmente, pelo povo.

Atravessar o alto Atlas pela mítica aldeia de Agoudal e sentir as paisagens áridas e majestosas da montanha é uma sensação incrível, onde as temperaturas rondam os 4 graus para alguns quilómetros depois, subir para os 40. São experiências fantásticas, cansativas, por vezes até extenuantes, mas valem por cada quilómetro percorrido e por cada suspiro que te sai a cada curva, sempre que te deparas com as paisagens indiscritíveis da montanha ao deserto.


O povo, amistoso, por vezes demasiado insistente com os seus pequenos negócios, dá todo um colorido àquele ambiente. Claro, muitos podem não gostar, afinal aqueles hábitos estão longe das lojas europeias em que entras mudo e sais calado.

A caótica e bela Marraquexe, onde conduzir de moto é um desafio, até te habituares à ideia de que os sinais são meramente indicativos e o que importa é ter buzina e nervos de aço.

Imaginar aquele povo que luta todos os dias por comida na mesa, que sofre as agruras do tempo, das más condições sanitárias, da hiperocupação das grandes cidades, da má qualidade da construção, sofrer um terramoto é uma catástrofe inimaginável!

Tenho amigos em Marrocos e como é compreensível o meu pensamento nos primeiros dias foi saber como estavam, só depois de várias tentativas foi possível chegar ao contacto e perceber que estavam bem, mas e os outros?

Todas as catástrofes naturais são dramas humanos, em particular nos países em desenvolvimento onde esse drama assume uma dimensão maior, os meios não chegam, as aldeias ficam isoladas e infelizmente, nem sempre é possível fazer chegar ajuda.

Por isso e porque neste momento me sinto de mãos atadas para prestar ajuda aos nossos amigos marroquinos, a única coisa que posso fazer é deixar-lhes a minha solidariedade e a promessa que em breve voltarei, nem que seja para tomarmos um chá. 


andardemoto.pt @ 30-9-2023 21:54:00 - Adelina Graça


Clique aqui para ver mais sobre: Opiniões