Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Viagem aos Pireneus
A minha viagem aos Pireneus começou por África…???? Sim, o meu professor de geografia neste momento ter-me-ia mostrado a palmatória, com razão, diga-se.
andardemoto.pt @ 4-2-2023 09:30:00 - Adelina Graça
Bem, a viagem era outra, Marrocos. Marrocos é uma daquelas viagens que me atravessa. Sempre que penso em ir, alguma coisa me impede. Não tenho tia em Marrocos, mas se tivesse diria que não me quer lá!
Da primeira vez que pensei ir a Marrocos as fronteiras estavam fechadas devido ao malvado COVID, da segunda também, mas essa não sabia eu.
Arranquei para o meu Alentejo com 2 semanas de férias e a vontade inabalável de ir comer um Tajine. Claro, não sem antes parar na minha terra (Vale de Vargo) para tratar de um belo queijinho alentejano e o tinto, que lá por terra de muslins beber um copo de tinto é tarefa árdua.
Fui à net e comprei diligentemente um bilhete de ferry de Algeciras para Ceuta. Primeiro erro. Achei estranho não ser possível comprar bilhete para TangerMed, mas enfim, não pensei muito sobre o assunto. O bilhete dava para chegar à outra banda do Mediterrâneo e depois logo se vê.
Uma nota importante, existem várias formas de comprar bilhetes de ferry, a melhor é comprares na net, claro. Mas desenvolvi uma técnica que considero que talvez seja vantajosa. Há dois tipos de site onde podes comprar o bilhete, aqueles que eu considero os intermediários que, na prática, a aplicação deles faz apenas uma busca por todos os operadores marítimos e encontra aqueles que te permitem fazer a viagem, e aí compras o bilhete nesse site, ou, em alternativa, verificar quais são os operadores que fazem a viagem que pretendes, sais dessa aplicação e procuras comprar o bilhete diretamente no site do operador (quando existe claro). Fica um pouco mais barato, pelo menos essa é a minha experiência.
Voltando a Marrocos, arranquei do meu Alentejo de peito cheio e a sentir-me já uma piloto de Dakar, uma espécie de Elisabete Jacinto, mas em versão bazófia.
Nunca consegui encontrar uma cidade portuária, a não ser a minha Lisboa, que seja bonita, Algeciras não é excepção, uma confusão degradante.
A “rodas altas” entrou para o ferry em todo o seu esplendor e por estranho que pareça, talvez por ser a única e não haver mais motos …. Uuummm… algo não está bem, entrou confiante.
Chegada a Ceuta, depois de muitos altos e baixos, literalmente, porque o mar estava furioso nesse dia, já cheira a Marrocos, com tudo o que isso comporta, tráfego confuso, sinais imperceptíveis, todo o tipo de viaturas, calor e… muito chinelo.
Ligado o GPS começa a aventura, o manhoso não saía do lugar. Mau, então não apanha nenhum caminho para Tânger? Raio, o que se passa, agora morres assim que chegas a África malvado! Voltas e voltas em Ceuta, já com o sentimento de que o sinal de GPS havia sido cortado porque havia uma qualquer conspiração intergovernamental que punha em causa a segurança nacional (demasiados filmes 007 ao domingo à tarde, quando ainda sabia onde ficava o meu sofá).
Espera, pergunto a um polícia que conspiração grave e ultrassecreta se trata para eu não ter sinal no GPS. Nada, o GPS está bom, a “fronteira é que está cerrada!” mau, então?
“Já ouviu falar do Covid? Há dois anos que não se ouve outra coisa! Pois é, desde essa altura que a fronteira está cerrada!”
Lá se foi a teoria da conspiração ultra secreta, era só o raio do bicho.
Voltei para trás então… Felizmente, consegui trocar o bilhete do ferry que tinha comprado para duas semanas depois. De cabisbaixo, por não ter mostrado ao mundo as minhas capacidades “enduronas” (um pouco de bazófia não faz mal a ninguém), lá voltei para o barco, não sem antes levar um arraso na minha moral, quando um GNR que fazia parte de um contingente de segurança na entrada do porto disse em estilo de gozo “eu achei estranho e até comentei com um colega, o que virá alguém fazer para Ceuta numa moto daquele tamanho? Isto tem pouco mais de 20 km”. Enfim, acabou com o resto da “confia” que trazia.
Voltei então de ferry para Algeciras, atravessando mais uma vez o raio de um mar picado que me fez pensar no “gregório” durante a travessia toda.
Chegada a Algeciras, com o orgulho ferido, arranquei pelo sul de Espanha direito a Barcelona…. Olha agora logo se vê…para trás não volto.
Outubro 2022andardemoto.pt @ 4-2-2023 09:30:00 - Adelina Graça
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